PAPA ABENÇOA CASAIS DO MESMO SEXO

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Esta segunda-feira, 18 de Dezembro, o Vaticano emitiu permissão formal e definitiva para padres católicos abençoarem casais do mesmo sexo, desde que essas bênçãos possam ser mantidas separadas do casamento.

Este decreto equivale a uma reviravolta após décadas de discórdia entre a comunidade defensora dos direitos para os homossexuais e a Igreja Católica, que há muito defende que os homossexuais são “desordenados” e que qualquer aceno às suas uniões homossexuais equivaleria a abençoar o que a Igreja Católica considera ‘pecado’.

A orientação do poderoso Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé), emitida após revisão e aprovação papal, reverte em grande parte uma decisão de 2021 e expande uma declaração muito mais breve de apoio a tais bênçãos emitida por Francisco em Setembro, em resposta a questões levantadas por clérigos conservadores. Podendo ler-se no documento da Santa Sé: «Sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimónio».

Este documento aprovado pelo Papa Francisco pretende “abençoar casais em situação irregular e casais do mesmo sexo” mas “permanece firme na doutrina da Igreja sobre o casamento”.

O documento divulgado diz que as bênçãos de casais do mesmo sexo não devem sugerir nem mesmo as armadilhas do casamento sacramental – incluindo as vestimentas tradicionais de casamento – ou mesmo cerimónias que reconheçam formalmente as uniões do mesmo sexo. Mas oferece diretrizes para oferecer bênçãos a pessoas em relações do mesmo sexo e dá explicitamente permissão aos “ministros ordenados” para conduzir tais bênçãos, ao mesmo tempo que pede aos sacerdotes que usem o seu próprio “discernimento prudente e paternal” para decidir quando fazê-lo é apropriado.

Casais em “situações irregulares”, bem como “casais do mesmo sexo”, podem receber bênçãos sacerdotais, disse o Vaticano, para que estas “relações humanas possam amadurecer e crescer na fidelidade ao Evangelho”.

“Com a sua sabedoria incansável e cuidado maternal, a Igreja acolhe todos os que se aproximam de Deus com corações humildes, acompanhando-os com aquelas ajudas espirituais que permitem a todos compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua existência”, disse o Vaticano.

O documento afasta-se de uma declaração do Vaticano de 2021 que confirmou a proibição de abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo, chamando-as de não “nem remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e a família”. Na altura, a decisão frustrou as esperanças dos católicos homossexuais e parecia indicar os limites das intenções reformistas de Francisco.

Mas desde então, Francisco repreendeu os padres da Europa Ocidental que se aventuraram a desafiar a proibição. E destituiu os responsáveis conservadores considerados os arquitetos da decisão de 2021 e nomeou um colega argentino e aliado, o cardeal Víctor Manuel Fernández, para chefiar o ministério encarregado da doutrina do Vaticano. Fernández assinou o decreto desta segunda-feira.

Segundo o cardeal Victor Manuel Fernández, o valor da declaração ‘Fiducia supplicans’ é oferecer “uma contribuição específica e inovadora ao significado pastoral das bênçãos”, permitindo ampliar e enriquecer a compreensão clássica das bênçãos, “que está intimamente ligada a uma perspetiva litúrgica”, a reflexão teológica, “baseada na visão pastoral do Papa Francisco”, implica um verdadeiro desenvolvimento a partir do que foi dito sobre as bênçãos no Magistério e nos textos oficiais da Igreja.

“É precisamente neste contexto que se pode compreender a possibilidade de abençoar os casais em situação irregular e os casais do mesmo sexo, sem validar oficialmente o seu estatuto ou alterar de alguma forma o ensinamento perene da Igreja sobre o matrimónio”, acrescenta.

O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé refere que esta declaração pretende ser também uma “homenagem ao Povo fiel de Deus, que adora o Senhor com tantos gestos de profunda confiança na sua misericórdia” e que, com esta confiança, pede “constantemente a bênção da Mãe Igreja”.

A Igreja Católica global, com 1,3 mil milhões de adeptos, está profundamente dividida sobre a questão da homossexualidade. Padres liberais alemães, belgas e suíços têm realizado bênçãos para pessoas do mesmo sexo durante anos, provocando denúncias de vozes católicas conservadoras nos Estados Unidos, enquanto alguns bispos católicos em África se recusaram a opor-se à legislação que impõe a pena de morte para atos homossexuais.

O Papa Francisco começou a abrir uma porta à comunidade homossexual pouco depois de se tornar Papa, declarando: “Quem sou eu para julgar?”

O segundo capítulo do documento, dos parágrafos 7 ao 30, analisa o significado das várias bênçãos, que têm como destino pessoas, objetos de devoção, lugares de vida, e explica, “de um ponto de vista estritamente litúrgico”, que a bênção exige que o que é abençoado “esteja em conformidade com a vontade de Deus expressa nos ensinamentos da Igreja”.

No capítulo seguinte, o terceiro, do parágrafo 31 ao 41, esclarece que, para evitar “qualquer forma de confusão e escândalo”, quando um casal irregular ou do mesmo sexo pede uma bênção, esta “nunca será realizada ao mesmo tempo que os ritos civis de união ou mesmo em conexão com eles, nem mesmo com as roupas, os gestos ou as palavras próprias de um casamento”.

D.Victor Manuel Fernández contextualiza que a declaração ‘Fiducia supplicans’ considera várias questões que chegaram ao dicastério nos últimos anos, e, ao preparar o documento, este organismo da Santa Sé “consultou especialistas, empreendeu um cuidadoso processo de redação” e discutiu o texto no Congresso da Secção Doutrinária do Dicastério, adiantando também que durante esse período, “o documento foi discutido com o Santo Padre”, que também reviu o texto e “o aprovou com a sua assinatura”.

O Papa divulgou, na antevéspera do início da próxima assembleia sinodal, no dia 2 de Outubro, as suas respostas a questões de cinco cardeais sobre temas como a sinodalidade, ordenação sacerdotal de mulheres ou uniões homossexuais: “Não podemos transformar-nos em juízes que apenas nega, recusam, excluem”.

Na quinta-feira, dia 14 de Dezembro, o Dicastério para a Doutrina da Fé publicou uma carta em que convida as comunidades católicas a promover o acesso de mães solteiras aos sacramentos.

FG