A ARMADILHA DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

JUDITE RAMOS5

 

Se não é de bom tom perguntar a idade a uma senhora, é muito útil afirmar os anos de experiência profissional que qualquer pessoa tem, a bem da sua maturidade laboral.

Tenho muito orgulho no tempo que dediquei às minhas diversas atividades profissionais. Na maior parte das vezes no ramo da gestão de empresas, o que me permite ter uma opinião sobre a Inteligência Artificial (IA) na relação laboral.

Pois bem, baseio a minha opinião nas estatísticas divulgadas pelo Fórum Económico Mundial que mostram que apenas 51% das mulheres utilizam ferramentas de IA generativa semanalmente. Enquanto 59% dos homens já incorporaram essa prática nas suas diversas rotinas.

Na verdade a diferença até parece pequena, talvez desprezível, mas o problema é que essa diferença é ainda mais acentuada entre os jovens, o que sugere que as futuras gerações de mulheres podem ficar ainda mais desfasadas se não houver uma mudança significativa de atitude. E é esse o alerta que faço neste jornal O Ponney.

O baixo comprometimento feminino com a IA deve ser considerado preocupante, pois pode deixar as mulheres em desvantagem competitiva num mercado de trabalho que cada vez mais valoriza a familiaridade com a tecnologia.

Profissões tradicionalmente ocupadas por mulheres, como atendimento ao cliente, saúde e educação, estão entre as mais ameaçadas pela automação. No entanto, o risco não está apenas na substituição direta por máquinas, mas também na substituição por indivíduos que dominam a tecnologia.

Com o atual domínio masculino na área de IA, existe um risco real de que os homens acabem preenchendo esses papéis, deixando as mulheres ainda mais marginalizadas no mercado de trabalho. A adaptação e a aprendizagem de novas habilidades são, portanto, essenciais para que as mulheres possam competir de igual para igual num cenário cada vez mais automatizado.

Para evitar os impactos negativos da automação, é crucial, na minha opinião, que haja uma mobilização tanto individual quanto coletiva. As mulheres devem ser incentivadas a explorar a IA e outras tecnologias emergentes desde cedo, através de iniciativas educacionais que desmistifiquem essas áreas e as tornem mais acessíveis. Além disso, políticas públicas e programas corporativos precisam de ser implementados para oferecer suporte e formação contínua, permitindo que as mulheres desenvolvam as habilidades necessárias para prosperar num mercado de trabalho em transformação.

As empresas também têm um papel fundamental nesse processo, ao promover a diversidade e inclusão nas suas equipas de tecnologia. Ao garantir que mais mulheres estejam envolvidas no desenvolvimento de IA, as empresas não apenas fomentam a equidade, mas também se beneficiam de uma gama mais ampla de perspetivas, o que pode resultar em muitas inovações mais robustas e adaptáveis. O sucesso de uma empresa no futuro estará diretamente ligado à sua capacidade de incorporar diferentes pontos de vista nas suas estratégias tecnológicas.

À medida que a automação se torna uma realidade inevitável, o engajamento ativo com a tecnologia será essencial para garantir que as mulheres não fiquem para trás. A chave para evitar que as mulheres sejam deixadas de lado num futuro dominado pela IA reside na educação, na inclusão e na consciencialização sobre a importância de se adaptar às mudanças tecnológicas. Só assim será possível construir um futuro onde a automação trabalhe a favor de todos, e não apenas de alguns.

Judite Ramos