A “ARTE” DE BAJULAR
Os bajuladores são encontrados com muita frequência em quase todos os cenários, em algumas famílias e até dentro de templos religiosos, mas o lugar onde mais se encontra essa espécie deprimente de ser humano é dentro da política.
Estas criaturas são defensores ferrenhos do indefensável, acusadores dos que não têm o mesmo pensamento e estão sempre prontos para aplaudir, para carregar nos braços o seu líder, o seu mito, ou seja lá o nome que lhes dão.
Às vezes pergunto-me por que motivo algumas pessoas que deveriam ser inteligentes, pensantes e capazes, precisam de chegar a tanto para se rebaixarem, para se humilharem, ficando em lugares que não lhes permitem ir mais longe, lugares onde as suas funções não são determinadas pelo seu currículo, nível de escolaridade ou capacidade intelectual, mas apenas por quanto estão dispostos a perder ao elogiar e defender nas suas conversas e redes sociais, o sistema onde estão inseridos ou até o seu líder.
Não tenho o direito de julgar quem vive como bajulador, mas apenas lamento!
Em tempos, tentei fazer parte de alguns destes grupos, mas nunca alcancei mérito algum. Pelo contrário, ser uma pessoa diferente com pensamentos próprios, mostraram-se agravantes e muitas vezes me colocaram numa condição estranha e sem saber desempenhar essa "arte" de bajular. Nunca consegui ir muito longe.
Nestes cenários, pensar é prejudicial, principalmente se pensarmos e dissermos o que não concordamos ou se concorda com o que dizem os que não são do mesmo grupo.
É bem possível que existam exceções, que existam pessoas que estão dispostos a escutarem, a darem a voz pela equipa, mas até aqui, no auge de meus 57 anos de idade, nunca conheci pessoalmente um representante que escute os que tem outras ideias que possam ser aproveitadas, esmiuçadas, apreciadas.
O curioso é que todo bajulador tem um traço comum: não gosta do bajulado, mas sabe fingir. A sua natureza servil de cortesão, apenas serve a seus próprios propósitos. Sempre! Em qualquer lugar e com qualquer que seja o bajulado. A vaidade maior do bajulador não é ser útil, mas atingir os seus fins por meio do servilismo hipócrita e incondicional. No seu intimo, dá boas gargalhadas pela arte de manipular o ego alheio, o que faz com esmero.
Só o bajulado não percebe por se sentir dominador quando de facto é este o ardilosamente dominado. Cegos pelo ego pessoal, o bajulado não se apercebe e muitas vezes acaba traído. Será tarde demais para resolver a situação ou chamar à atenção quem o prejudicou intencionalmente.
Por norma, os bajulados querem escutar o que acham que os beneficia e não a verdade do que realmente se está a passar e que pode não ser em seu favor. No lugar destes tomarem isso como um alerta para saberem que não estão a fazer bem, preferem ignorar e tornarem-se “ditadores”.
Há muita gente que não se importa em lançar a sua capacidade, e até a vida, no lixo, aqueles que se dedicam à arte de bajular. Assim fazem porque carregam como característica de personalidade, o servilismo para atingir fins pessoais. Esmeram-se por afagar o ego alheio na ânsia de agradar o elemento bajulado e chamam a isso, capacidade de sobreviver na sociedade. Isso é muito próprio dos incompetentes, pois são vazios de espírito virtuoso. Nada criam, nada sabem fazer para o bem comum.
Quem está acima dos mesmos, numa posição de chefia ou até numa posição superior da sociedade, adora estes bajuladores, pois eleva o seu ego pessoal para além de ficar a conhecer das ultimas “travessuras” de todos aqueles que não seguem as suas ideologias, projetos ou vontades e dessa forma, impor a sua vontade como lhe bem parece para contentamento destes lambe-botas.
A parte pior é que estes personagens estão presentes em todos os agrupamentos sociais, o que é lastimoso. Muitos procuram conquistar ou manter posições mais disputadas, usando maneiras subtis e sofisticadas de praticarem a adulação e não se envergonham disso, mesmo que corram o risco de jogarem no lixo a sua vida pessoal, capacidades, projetos.
Para alcançarem os seus objetivos, procuram descobrir o que pensam e o que querem seus superiores, para deste modo ajustarem o seu comportamento ao dos seus superiores, aos quais desejam demonstrar extrema fidelidade. Apoiam até situações mais absurdas que seus chefes possam fazer ou dizer. É a chamada lisonja interesseira. Identificamos muito isso no exercício da administração pública. Esta gente exerce o seu oficio de bajulador com habilidade e afinco.
Entristece-me quando vejo alguns amigos próximos a adotarem estas posturas de subserviência vergonhosa para não perderem o prestígio dos chefes. Preferem perder a honra, mas manter o estatuto social ou posição laboral em troca de deitar outros abaixo e com a desculpa de “se não for eu, será outro qualquer”.
Inclinam-se diante do poder com uma devoção servil. Se o superior necessitar de um elogio, estes lá estarão na condição de “capachos”, de lambe-botas. A exaltação, ainda que falsa, fortalece a capacidade de contentar o outro, ajudando a manter a oportunidade de continuar no lugar dado, bem como na sua vida pessoal, mesmo que custe da desmoralização de outros.
O bajulador rasteja diante de quem possa satisfazer os seus interesses. Fala sempre o que o bajulado gosta de escutar e as suas opiniões variam conforme a orientação de quem esteja a ser bajulado. Esta pessoa assemelha-se a um camaleão, pois tem uma versatilidade impressionante para se adaptar às circunstâncias favoráveis da sua situação.
Às vezes pergunto-me porque pessoas que considero com algum nível de inteligência não conseguem sair desta caixinha dos bajuladores, assumindo um comportamento tão deprimente. Porque tanto se rebaixam e se humilham, na ambição de permanecerem como prestigiados pelos que estão exercendo o poder?
Tenho dificuldade em aceitar que a bajulação, a competência e a inteligência sejam qualidades que possam ocupar o mesmo corpo e por esta razão, concluo que estas pessoas são estúpidas, incapazes e incompetentes, mas tem o dom da palavra, levando os restantes à sua volta a acreditar que até são o contrario.
José Ligeiro