A IRA

MANUELA25

 

Hoje vou falar sobre o pecado capital, a ira.
Para isso vou entrar num dos capítulos mais apaixonantes da nossa história e nomeadamente a nossa cidade de Coimbra que tanta tinta e tanto sangue fez escorrer.

 

IRA1

 

A triste e apaixonante história de D. Pedro e D. Inês.

Na cidade de Coimbra, no século XIV, um amor proibido florescia entre D. Pedro, herdeiro do trono de Portugal, e D. Inês de Castro, uma nobre dama galega de extraordinária beleza.

Mas este amor, incendiado pela paixão, mais tarde transformar-se-ia num fogo de ira que consumiria o reino.

D. Inês, cativou o coração do jovem príncipe com a sua inteligência e graça, mas este amor era condenado pelas convenções sociais e políticas da época.
A ira crescente do rei, D. Afonso IV, pai de D. Pedro, gerou um conflito que abalou o reino.

O amor entre os dois era tão arrebatador que despertou a ira e a inveja de muitos, incluindo o pai de D. Pedro, o rei Afonso IV.

Não se esqueçam que D. Inês era galega e os Castros poderiam ser uma ameaça para o trono de Portugal e colocar em risco a sua independência em relação a Castela.

A ira de um rei cego pelo poder, e a ira de um príncipe desafiando as regras impostas, culminaram num trágico desfecho em 7 de Janeiro de 1355.
A D. Inês foi- lhe roubada a vida de forma cruel, vítima da ira desenfreada que dominava o coração dos homens.

D. Pedro, consumido pelo desejo de vingar a morte de sua amada, tomou o trono e iniciou uma sangrenta guerra civil, alimentando a chama de sua própria ira.

Até que finalmente, sobre o túmulo de D. Inês, coroando - a sua rainha e esposa, jurou vingança.

A ira, que inicialmente era um fogo ardente que consumia a alma de D. Pedro, transformou-se num inferno que devastou o reino, levando a dor e a destruição todos os envolvidos nesta tragédia.
Uma triste realidade que não se apagou com o tempo, pois a história de D. Pedro e D. Inês continua a ecoar através dos séculos, como uma das consequências mais devastadoras do pecado capital da ira.

E assim, Coimbra testemunhou a tragédia de um amor proibido transformado em ira, que manchou para sempre a história de Portugal, deixando cicatrizes que jamais seriam esquecidas. Um poderoso e sábio aviso sobre o poder avassalador da ira, capaz de destruir não apenas indivíduos, mas também reinos e famílias poderosas colocando em risco a soberania portuguesa.

Nesse receio, o rei D. Afonso IV, ordenou que D. Inês fosse assassinada (cruelmente segundo algumas fontes) na Quinta Das Lágrimas.

A bem amada de seu filho.

Diz a lenda, que o sangue derramado do seu corpo ferido e moribundo, manchou o local do crime. Ainda hoje são visíveis as manchas vermelhas que ali existem no local onde brutalmente perdeu a vida, que as suas lágrimas se transformaram numa bela fonte que ali existe . Passados todos estes séculos ainda se perpétua a história da linda Inês de Castro.

A crueldade desse ato levou Pedro à loucura, ele, que segundo consta, até já nem era muito equilibrado. Não é muito normal um futuro rei andar com bandidos e assaltantes a cometer a criminalidade.

Consumido pela ira e pelo desgosto da perda de sua amada, jurou vingança contra os responsáveis pelo seu assassinato, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco.
E assim, mergulhou ainda mais fundo na espiral de destruição causada pela ira.

D. Pedro, consumido pelo desejo de vingar a morte de sua amada, já com o poder do trono, iniciou uma sangrenta guerra civil, alimentando a chama de sua própria ira.

Até que finalmente, sobre o túmulo de D. Inês, jurou vingança.

E assim, Coimbra testemunhou a tragédia de um amor proibido transformado em ira, que manchou para sempre a história de Portugal, deixando cicatrizes que jamais seriam esquecidas.

A ira de Pedro tornou-se lendária, que não descansou até que os responsáveis pelo crime fossem punidos. Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados em Castela e violentamente torturados depois de terem fugido para Castela. O Diogo Lopes Pacheco, consegui ainda partir com destino a França e refugiou- se em Avinhão.

Tantas vezes visitei Avinhão a cidade dos papas e desconhecia que um dos criminosos tinham fugido com essa destinação.

Diz a lenda que D. Pedro, depois de os torturar, lhes arrancou os corações. Um pelo peito e o ao outro pelas costas, enquanto se banqueteava.

O terceiro, o tal Diogo, segundo relatos escritos, fazendo- se passar por mendigo, conseguiu escapar à morte, segundo as crónicas do rei D. Pedro, de Fernão Lopes. Regressou mais tarde a Portugal recuperando todos os seus bens .

Este trágico acontecimento marcou para sempre a história de Coimbra, deixando como legado, uma história de dor, sofrimento, violência, vingança e destruição causado pelo poder louco e descontrolado de D. Pedro.
O pecado da ira é um dos mais devastadores e perigosos pela espiral de ódio onde entra, capaz de levar a atos extremos e irreparáveis.

A história de Pedro e D. Inês de Castro servem de aviso sobre os poderosos efeitos devastadores do pecado da ira.

É preciso ter cuidado e encontrar maneiras de controlar e superar a ira, para evitar que ela cause tragédias como a que se abateu sobre Coimbra.

Qualquer ser humano sob o efeito nefasto e perturbador de um acontecimento imprevisto e traumático, pode cometer atos completamente imprevisíveis.
Mesmo aquele que se considera muito calmo e tolerante.

A ira é uma emoção poderosa que pode levar ações destrutivas, especialmente nos tempos modernos, onde as redes sociais amplificam as vozes e as emoções das pessoas. Com o anonimato e a distância que a internet proporciona, as pessoas muitas vezes sentem - se mais à vontade para expressar a sua raiva de uma forma mais extrema, o que pode levar a uma espiral que vai aumentando a violência e o ódio.

É importante lembrar que a ira em si é necessariamente um pecado capital, mas o pior está com o que fazemos com ela. Em vez de ceder à raiva cega e à impulso mais primário, é fundamental encontrar formas saudáveis de lidar com essa emoção. Praticar a empatia, a comunicação não-violenta e tentar compreender a origem da raiva, em nós mesmos, quanto nos outros, podendo ajudar a promover e desenvolver um ambiente mais pacífico e construtivo.

Além disso, é fundamental combater a disseminação do ódio e da violência nas redes sociais, dando lugar ao diálogo e à educação. Ao reconhecer a influência dos nossos instintos mais básicos, nas nossas vidas e na sociedade, podemos trabalhar para transformar essa energia nefasta em algo positivo e construtivo, tanto a nível individual quanto coletivo.

Então talvez fosse bom refletir que sob os efeitos de tal sentimento destruidor e pensar que todos podemos ser potenciais carrascos.

E com este exemplo de Pedro e Inês que todos conhecemos da nossa cidade, escrito e lembrado pelo nosso grande poeta Luís de Camões, também eu vou finalizar este texto com um humilde poema.

Que Camões feche o outro olho, mas cada um faz aquilo que pode e lhe vem à mente, e eu faço o que posso, sem desejar provocar a ira.

A Ira

A ira é fogo que arde sem se ver
Que consome a razão, cega a visão
É um de furacão, difícil de conter
Um pecado que corrói a emoção

A ira é fogo que arde sem se ver
Um tormento silencioso a consumir
É um vulcão prestes a explodir
Um pecado capital que a alma faz sofrer

Por isso é preciso controlar a ira
E deixar que o amor seja luz
Para que o coração não se perca na escuridão
E o fogo da ira se apague com a brisa suave do perdão.

Até para a semana para mais um pecado.

Manuela Jones