A LENDA DOS 3 RIOS QUE NASCEM NA MESMA SERRA: MONDEGO, ZÊZERE E ALVA

JO JONES59

 

Vou dar início a algumas crónicas que exploram as lendas populares de diversas regiões de Portugal, começando, naturalmente, pela emblemática história que envolve os rios: Mondego, Alva e Zêzere.

Uma vez mais, o nosso Mondego cá está novamente esta semana. Afinal também nasci nesta bonita cidade tão cheia de lendas e tradições. Estas narrativas populares, são um reflexo da profunda conexão entre a natureza e a alma humana, revelando a riqueza do nosso património cultural.

Em tempos remotos, numa tarde que se despedia do sol, três irmãos de águas cristalinas e destinos interligados, o Mondego, o Alva e o Zêzere, encontravam-se à beira de uma nova aventura.
Nascidos da mesma serra e partilhando a mesma essência, estes rios eram mais do que meras correntes. Eram amigos íntimos, unidos por um laço indissolúvel. Mas a inquietude que habitava nos seus corações despertou um desejo ardente de liberdade.

O Mondego, astuto e vigoroso, despertou antes que a luz do dia rompesse no horizonte. Com um plano meticuloso, decidiu que a sua corrida em direção ao mar da Figueira da Foz, começaria com a maior discrição. Silenciosamente, deslizou pelas encostas da Guarda, atravessando as Beiras, como um caçador em busca de sonhos. Ao longo do caminho, sentia a presença dos seus irmãos, cujos espíritos o guiavam, incentivando-o a avançar. A cada passo, o Mondego tornava-se mais forte, mais determinado, alimentado pela força da amizade que sempre o acompanhou.

Enquanto isso, o Zêzere, igualmente destemido, lançou-se ao no seu percurso. A sua trajetória era marcada pela bravura e pela paixão. Descia pelas serras, contornando montanhas e vales, em busca da sua própria liberdade. O Fundão e Pedrogão Grande eram apenas paragens temporárias na sua trajetória, pois o Zêzere sabia que o seu destino final era o Tejo, onde esperava encontrar a imensidão do mar. Sentia a adrenalina a correr nas suas correntes e o ecoar das suas esperanças nas profundezas da terra.

Porém, enquanto seus irmãos avançavam, o Alva, sonhador e introspetivo, deixara-se seduzir pelo esplendor das estrelas. Em vez de seguir o caminho dos outros, permitiu-se perder - se na contemplação, confiando na sorte e no seu próprio talento. Quando finalmente despertou do seu devaneio, viu os irmãos quase fora de vista e de alcance. O seu coração disparou, e, num gesto impetuoso, lançou-se em direção a eles, escalando montanhas e atravessando campos. A raiva e a determinação pulsavam dentro dele, alimentando a sua corrida desesperada.

Contudo, quando julgava que a vitória estava ao seu alcance, deparou-se com o Mondego, que, sereno e imperturbável, já havia avançado consideravelmente. O Alva, tomado pela frustração, lançou-se contra o amigo, numa investida carregada de emoção. Mas o Mondego, com um sorriso cúmplice e cheio de compreensão, acolheu a fúria do irmão, engolindo-o num gesto que simbolizava a eterna união entre eles. O local onde o Alva se fundiu ao Mondego ficou eternamente conhecido como "Raiva", uma lembrança da intensidade daquela rivalidade e do amor fraternal que os unia.

As águas dos rios não são meras correntes que fluem pela terra, são narradores de histórias e sentimentos que ecoam através dos séculos. O Mondego, o Alva e o Zêzere representam não apenas a força da natureza, mas também o poder das relações humanas, das paixões e dos sonhos. A lenda destes três rios irmãos é uma declaração viva de que, mesmo nas corridas mais intensas da vida, a amizade e a determinação são forças que moldam o nosso destino.

Ao contemplar as margens destes rios, podemos sentir o pulsar das suas águas, ouvir os ecos das suas histórias e perceber que cada corrente, cada curva, é um testemunho da luta e da vitória sobre as adversidades. E assim, a história do Mondego, do Alva e do Zêzere continua a fluir, como um rio que nunca cessa, desaguando na eternidade das memórias e dos sentimentos que nos ligam a esta terra rica em lendas e tradições. Que esta narrativa nos inspire a valorizar a amizade, a reconhecer a força que nos une e a correr sempre juntos à procura dos nossos sonhos, pois é na partilha e no apoio mútuo que encontramos a verdadeira grandeza da vida.

Manuela Jones