A LUTA DE HELENA: A REALIDADE DOS CUIDADORES INFORMAIS EM PORTUGAL
Na continuidade da nossa reflexão sobre a importância dos cuidadores informais em Portugal que tenho vindo a fazer nas minhas últimas publicações, hoje trago uma história verídica e que ilustra, de forma pungente, os desafios que muitos jovens e não só enfrentam diariamente.
Hoje trago-vos a historia de HELENA
Esta jovem reside no Porto, e as suas dificuldades espelham bem a realidade de muitos milhares de cuidadores que o destino designou de um dia para o outro.
Maria (mãe de Helena) de braço dado com a sua avó de 85 anos, num qualquer dia de Março do ano passado,sofreu uma queda aparatosa, resultando num traumatismo grave,e consequentemente tornou-se em estado comatoso , gerando lesões e sequelas para a vida. Alguns segundos bastaram para virar o quotidiano destas pessoas, transformar a vida laboral e sentimental desta família.
A sua mãe, devido ao acidente, passou a depender de uma cadeira de rodas para se deslocar e, consequentemente, de cuidados constantes.
A mãe, hospitalizada quase um ano numa unidade de neurologia dum Hospital, em fase de recuperação do angustiante estado, tenta diariamente regressar à vida.
A rotina de Helena , passava pelo seu desempenho e performance laboral, como qualquer outro cidadão , e eis senão quando , as horas das refeições e lazer , são substituídas por visitas diárias ao hospital , e fins de semana de vigília para motivar a mãe a sair do seu estado neuro- -vegetativo.
A vida, muitas vezes considerada ingrata, tornou-se um verdadeiro desafio para Helena, que se viu forçada a assumir a responsabilidade de cuidar da mãe e trabalhar. Vai pedindo apoio a alguns familiares, mas tudo tem os seus limites e nem sempre é possível.
Os lares já de si, sobrecarregados, vão declinando internamento, e só resta o acolhimento familiar.
Além da pressão financeira e da falta de apoio da Segurança Social, esta jovem enfrenta um obstáculo adicional: a sua própria casa.!!!!!
A viver num segundo andar com uma enorme escadaria exterior, sem elevador ou plataforma elevatória, cada visita ao médico com a mãe, torna-se uma aventura quase hercúlea. Sem transporte especial atribuído, as idas às consultas são uma luta, um motivo de grande ansiedade para esta jovem já esgotada física e psicologicamente. A subida e descida das escadas com a cadeira de rodas é não apenas difícil, mas uma constante lembrança das limitações que a vida impôs tendo que recorrer a ajudas de terceiros.
Onde está o transporte especial de doentes motores com estas patologias?
Somos o tal povo muito solidário que ajuda toda a gente, desde que não sejamos nós.
Quem ajuda a nossa guerreira?
Não é apenas uma questão de apoio financeiro, mas também de suporte emocional e social.
Helena sente-se sozinha na sua luta, esgotada sem saber a quem mais recorrer. As noites são longas, ela não consegue dormir para tratar daquela que lhe deu a vida e que a chama permanentemente. Os dias, muitas vezes, tornam-se um ciclo desgastante entre trabalhar, cuidar da mãe, e lidar com as suas próprias
frustrações e preocupações, sem descanso.
Ela não pode perder o seu emprego única fonte de rendimento naquela casa.
Mas corre sérios riscos.
A precariedade da sua situação é alarmante. Se algo lhe acontecer, se por exemplo, ela não conseguir manter o emprego, o que será da sua mãe?
Essa incerteza gera um constante estado de ansiedade. A resiliência de Helena é admirável, mas a realidade é que ninguém deveria ter de enfrentar estas dificuldades isoladamente. As assistentes sociais e as Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) parecem estar ausentes neste momento crítico. As vagas não existem e as portas fecham se todas. Onde estão os recursos que deveriam estar a apoiar Helena e a sua mãe?
A institucionalização é a única solução viável, mas, para isso, é necessária uma intervenção eficaz e urgente.
Esta filha não tem capacidade financeira para uma instituição privada. Não sabe mais a quem recorrer mais. Depois de todas as reuniões, emails, e promessas sem fim ou infrutíferas.
Os preços nas instituições privadas são incomportáveis para a generalidade dos utentes do SNS, e Helena não têm qualquer hipótese.
É aqui que surge a necessidade de dar a conhecer esta situação à imprensa. Através da partilha da história de Helena, esperamos criar um apelo de solidariedade que possa levar a soluções concretas para ela e para muitos outros que se encontram na mesma situação. É imperativo que a sociedade tome consciência desta problemática e que se desenvolvam políticas que efectivamente apoiem os cuidadores informais.
A história desta filha é um apelo à ação. Precisamos urgentemente de sistemas de apoio mais robustos, de mais vagas em instituições, e acima de tudo, de um reconhecimento do valor que estes não profissionais trazem à nossa sociedade.
Juntos, podemos fazer a diferença e assegurar que histórias como esta, sejam cada vez mais exceções, e não a regra!
Manuela Jones