A MAGIA DE MONSANTO E IDANHA-A-NOVA

JO JONES42

 

UM ENCONTRO COM O ENCANTO E A MAGIA DA ALDEIA MAIS PORTUGUESA DE PORTUGAL

No coração de Portugal, já perto de Castelo Branco em Idanha-a-Nova, onde as serranias se fundem com o azul do céu, ergue-se a aldeia de Monsanto, um dos lugares mais fascinantes e singulares do nosso país. A sua beleza não reside apenas nas paisagens deslumbrantes que a cercam, mas na forma singular como as casas se fundem com as rochas, como se a própria terra tivesse decidido dar vida a uma aldeia que desafia o tempo e a lógica.

No topo da aldeia, majestoso e imponente, encontra-se o castelo de Monsanto, uma estrutura que remonta ao século XII. Este castelo, construído em granito, não é apenas uma fortificação, mas um testemunho da história rica e complexa da região.

Durante a Idade Média, o castelo foi um importante ponto estratégico, permitindo o controle das rotas que ligavam as terras do interior a outras regiões. A sua posição elevada proporciona uma vista panorâmica deslumbrante, permitindo aos visitantes vislumbrar a beleza que se estende até onde a vista alcança.

Dentro das muralhas do castelo existiu uma judiaria segundo alguns relatos, uma comunidade de judeus que se estabeleceu neste local, contribuindo para o desenvolvimento económico e cultural da aldeia. A presença da judiaria é um testemunho da diversidade que caracterizou Monsanto ao longo dos séculos. As histórias dos judeus que ali viveram, as suas tradições e a sua influência na vida quotidiana da aldeia, acrescentam uma camada de profundidade à rica tapeçaria cultural que compõe este lugar. A memória destes habitantes ainda ecoa nas pedras que compõem o castelo e nas ruas que serpenteiam pela aldeia. Mas falar aqui de todos os relatos históricos, seria decerto alongar-me muito neste texto, pois haveria muito que contar.

Ao pisar as ruas de Monsanto, fui imediatamente envolvida por uma aura mágica. As casas, construídas em granito e empoleiradas nas encostas íngremes, parecem emergir das próprias pedras, como se quisessem contar a história de um povo que sempre respeitou a sua terra. Cada uma delas, com as suas varandas em flor e janelas que se abrem para a paisagem, cria uma imagem quase surreal, como se as próprias rochas tivessem decidido dar abrigo a estas habitações. Senti como se estivesse a caminhar por um mundo onde a natureza e a arquitetura se fundem em perfeita harmonia.

Uma das lendas mais fascinantes que habitam Monsanto é a da boneca matrafona, um símbolo de fertilidade e prosperidade que tem uma relação direta com a festa da sagrada Santa Cruz, ainda hoje aqui celebrada pelos habitantes da aldeia a cada 5 de Maio. Mulheres vestidas com os seus melhores trajes sobem até ao castelo com potes cheios de trigo que serão lançados lá do alto do Castelo para relembrar a verdadeira lenda da vitela que os salvou do inimigo.

Estas bonecas, feitas à mão pelas mulheres da aldeia, são únicas, não possuindo olhos, ouvidos nem boca. Não falam, não ouvem, não veem.
O que se passa entre o casal, fica entre quatro paredes.

Assim me disse a anciã que fabricava uma das matrafonas quando a questionei.
No seu interior, escondida, uma cruz de Cristo confere-lhes uma aura de proteção, esperança e prosperidade. A tradição diz que mulheres que enfrentam dificuldades em engravidar devem dormir com a matrafona debaixo do colchão, acreditando que desta forma a boneca trará a bênção da fecundidade. Durante a minha visita, não pude deixar de observar o cuidado e a dedicação que os artesãos colocam na confeção destas figuras, cada matrafona vestida com trajes tradicionais, e as histórias que as envolvem parecem conferir-lhes vida própria.

A história de Monsanto é também marcada pela presença de Idanha-a-Nova, uma localidade vizinha que complementa a experiência mágica da região. É um convite à descoberta, com as suas ruas pavimentadas de memórias e a sua história que remonta à época dos romanos. A confluência de culturas e tradições nesta terra é palpável, e cada passo que dei na sua calçada parecia ressoar com as vozes dos que ali viveram antes de mim.

Foi aqui que me deparei com o relato que orgulha esta região. Foi aqui gravada uma das temporadas da tão famosa série "A Casa dos Dragões", que encontrou em Monsanto o cenário perfeito para esta série tão épica. Ao percorrer as ruas onde as câmaras captaram a essência de uma história que marcou esta geração, senti-me como um personagem de um conto, onde a realidade e a fantasia se cruzam de forma harmoniosa. A magia da aldeia parecia intensificar-se, como se as pedras e as casas sussurrassem segredos à brisa suave que acariciava o meu rosto.

A experiência de visitar Monsanto e Idanha-a-Nova é, sem dúvida, um convite à introspeção. Cada rua, cada pedra, cada lenda ouvida provoca um eco profundo dentro de nós. Lembro-me de me sentar num banco de pedra, contemplando a paisagem que se estendia diante dos meus olhos. O silêncio era interrompido apenas pelo canto dos pássaros e pelo som distante do vento a soprar entre as árvores. Foi ali que percebi que a verdadeira magia daquele lugar reside na sua capacidade de nos conectar com algo maior, com a essência da vida e da natureza.

A gastronomia local também merece destaque nesta viagem mágica. Os sabores autênticos da região, com pratos que falam da tradição e da história, proporcionam uma experiência sensorial que complementa a beleza do local. Não posso deixar de mencionar o queijo, um deleite que se derrete na boca e que, acompanhado por um bom vinho da região, transforma uma refeição num verdadeiro festim para os sentidos.

Enquanto caminhava pelas ruas de Monsanto, as histórias que ouvia dos habitantes locais tornaram-se parte de mim. Elas falavam de resistência, de amor à terra, e de uma comunidade que preserva as suas tradições com orgulho. Cada rosto, cada sorriso, refletia a alma de um povo que não esquece as suas raízes, mesmo quando o mundo à sua volta parece mudar a um ritmo frenético.

Em suma, esta visita, foi uma experiência que transcendeu o turismo comum. Foi um mergulho profundo na cultura, na história e na magia de Portugal. Cada momento passado ali, cada pedra tocada, cada lenda ouvida, deixou uma marca indelével na minha alma. Ao partir, levei comigo não apenas memórias, mas também um pedaço da magia que faz deste lugar uma joia escondida no coração do nosso país. É um convite para todos nós, explorar, sentir e deixar-se maravilhar pela beleza que Portugal tem para oferecer.

Bom fim de semana para todos os nossos amigos e leitores.
Manuela Jones