A REDESCOBERTA DA PREGUIÇA

PERGUI1

 

Depois de algumas semanas a escrever sobre pecados, também com a colaboração de uma amiga e excelente escritora, a Dra. Sónia Marques Carvão, que com o texto sobre o caruncho da alma, descreveu com muita inteligência, o pecado da inveja.

Chegamos enfim, ao último capítulo sobre os pecados capitais, a preguiça.
Vocês também já devem estar cansados de tanto pecado, mas:
Talvez não fique por aqui.
Não há duas sem três, nem sete sem oito.
Diz o ditado, que a preguiça é mãe de todos os vícios.

Normalmente, todas as semanas, antes de fazer uma publicação dos meus textos de opinião , tenho por hábito fazer um telefonema ao meu amigo José Augusto, director deste jornal.

Primeiro, para saber a sua opinião sobre os temas que vou abordando, por vezes, porque tenho mesmo a necessidade de recorrer aos seus amplos conhecimentos, para dissipar qualquer tipo de dúvidas. Afinal eu não tenho sapiência para todos os temas e estou numa contínua aprendizagem.

Durante muito tempo, eu desclassifiquei o pecado da preguiça.

Acreditava que havia males maiores, pecados mais graves que mereciam a nossa atenção. No entanto, numa conversa telefónica com meu amigo José, fui confrontada com uma visão surpreendente: a preguiça é longe de ser um pecado menor, poderia ser mesmo o pior deles.

Ao longo de nossas vidas, somos ensinados a repudiar a preguiça.

Ela é vista como um obstáculo ao progresso, um pecado que nos afasta dos nossos objetivos. No entanto, ao refletir sobre as palavras do José, comecei a perceber que a preguiça vai muito além da simples inação. Ela é a raiz de muitos males, a semente de desperdício e do arrependimento.

A preguiça impede- nos de alcançar o melhor de nós. Mantém- nos estagnados na nossa zona de conforto e priva-nos de oportunidades que surgem na nossa vida. Ela sussurra nos nossos ouvidos, convencendo- nos de que merecemos descanso eterno, enquanto o mundo ao nosso redor clama pela nossa contribuição.

No entanto, ao olhar para trás, percebo que a preguiça não é apenas a falta de ação, mas sim a falta de propósito. É a negligência em relação aos nossos sonhos, a relutância em procurar o que realmente importa. A preguiça torna- nos espetadores das nossas próprias vidas, em vez de protagonistas ativos.

Ao aceitar a perspetiva do José, descobri que a preguiça é o pior dos pecados, pois corrompe a nossa essência, mina as nossas aspirações e afasta- nos das nossas realizações pessoais. Ela aprisiona - nos numa espiral de inércia, desperdiçando o dom precioso do tempo.

Portanto, é hora de encarar a preguiça de frente, de desmascarar as suas artimanhas e de recusar o seu domínio sobre nós. Devemos procurar a motivação, a disciplina e a determinação para superar esse obstáculo, para vivermos vidas plenas.

Que possamos transformar a preguiça em energia, a inação em movimento, e encontrar a força necessária para conquistar os nossos sonhos mais profundos. Que possamos, enfim, redescobrir a verdadeira essência da vida, longe das garras paralisantes da preguiça.
Eu achava que todos nós teríamos tido um dia, momentos de profunda preguiça.

Não, nós temos é a necessidade de períodos de descanso e renovação.
O tal desligar a "ficha da corrente" quando há perigo de "um curto circuito" , que nos impede de progredir.

O pecado da preguiça ou acídia é muito mais grave e profundo.

A acídia, também conhecida como preguiça espiritual, é um conceito que remonta à tradição cristã, especialmente abordada por São Tomás de Aquino.

Segundo ele, a acídia é a falta de motivação para praticar a fé e cumprir os deveres religiosos.
Em termos mais amplos, a preguiça é entendida como a falta de vontade de realizar tarefas ou ações que requeiram esforço. É um desligar-se completamente do mundo. É uma forma de morrer para a vida continuando vivo.

A preguiça, mãe de todos os vícios, sussurra sedutoramente, envolvendo a mente em seu abraço sonolento. É o sussurro que nos afasta da ação, que nos embala na inércia. Enquanto nos acomodamos na sua teia, os sonhos morrem , as ambições definham e o tempo escapa sorrateiramente.
A preguiça aprisiona - nos na zona de conforto, impedindo- nos do interesse, de construir, de nos superar, ter ambições e realizações. É o silêncio que ecoa em projetos inacabados, em talentos desperdiçados, em oportunidades perdidas. É o lamento que se torna um peso, uma corrente invisível que nos arrasta para a mediocridade.

Assim, a preguiça, aparentemente inofensiva, revela-se como um obstáculo insidioso que nos afasta da realização, da plenitude e da evolução.

Eu hoje não vos posso contar um caso já vivido de preguiça plena.

Por muitos preguiçosos que eu possa ter conhecido, e conheci alguns, nunca conheci um que tenha cometido integralmente o pecado da preguiça.

Conheço gente que tem períodos muito longos na sua vida, em que não lhes apetece fazer rigorosamente nada. De produzir em função das suas necessidades, acomodando- se e muitas vezes e explorando o próximo.

É verdade que os tratei e tratarei sempre de preguiçosos.

Mas vivem, divertem- se, comem, bebem, choram, gritam. Só não gostam de trabalhar e produzir.

No entanto, vou contar- vos uma passagem que me contava muitas vezes a minha mãe, quando me via muito tempo sem fazer esforços e vencer os meus obstáculos.

Era assim a sua história :

A preguiça estava deitada sob um sol escaldante. Sentia o calor abrasador penetrar seu corpo imóvel. Seus lábios estavam ressequidos pela sede e ansiavam desesperadamente por um gole de água fresca, enquanto o rio ao seu lado, cantava suavemente a sua melodia convidativa. No entanto, a preguiça, envolta na sua própria inércia, consumida pela sua sede insaciável, ia sucumbindo ao seu próprio descuido. A tragédia da preguiça que morre de sede à beira do rio.

Nunca me esquecerei deste ensinamento que a minha mãe me contava e agora também, com os do meu amigo José.

Ao refletir sobre as palavras do José Augusto, percebi que a preguiça não é apenas a inatividade física, mas também a letargia mental e emocional que nos impede de crescer, de ajudar os outros e de alcançar a plenitude nas nossas vidas.

Agora, vejo a preguiça como a antítese da realização, um veneno subtil que corrói as nossas aspirações. Reconheço que, para viver uma vida plena e significativa, devo confrontar e superar a tentação da preguiça em todas as suas formas.

Agradeço ao José por me mostrar a verdade sobre a preguiça. Por me inspirar na continuidade da procura do zelo , da paixão e da determinação em tudo o que faço. Que possamos todos, juntos, vencer a preguiça e abraçar uma vida de propósito e realização.

Até para a semana.

Se não me der a “preguiça”, talvez vos traga um oitavo pecado.

Manuela Jones