ÁFRICA DO SUL: UM PROBLEMA DE RACISMO E DE TRIBALISMO
A África do Sul racista, a de um certo homem branco, o do norte de uma Europa soberba, petulante e de um novo riquismo sub-cultural, já lá vai, faz 30 anos. A África do Sul racista, a da negritude, continua viva. A África do Sul tribalista está forte e recomenda-se, como se pode aferir do actual momento – grave, desordeiro, sem freio, animalesco e sem lei – que se está a viver nesse País, por causa da prisão do ex-Presidente Jacob Zuma.
Zuma, todo ele zulu, uma das etnias mais enfurecidas e com um passado de lutas, foi tudo no seu trajecto de cidadão e de político: do célebre e histórico ANC, socialista, comunista e, também, um verdadeiro populista.
A A. do Sul tem um mosaico étnico brutal, o que tem espalhado, ao longo dos últimos três séculos, a divisão, a antipatia entre eles, a guerrilha, um racismo da mesma matriz e o fraccionamento do poder que as principais tribos – Xhosas, Zulos, Swasis, Ndebeles, Sothos, Pedis, Tswanas e, ainda, as franjas de Tsongas e Vendas - tentam conquistar.
Mandela foi, após a sua libertação e a ascendência a Chefe de Estado – incorporou a etnia Xhosa – a figura da estabilidade, da pacificação, da coexistência humana sem direito a raças ou cores de pele (a única defesa era o Ser Humano…) e soube projectar o seu País numa onda de grande respeito uns pelos outros, pois percebeu que a sua África do Sul, continuava estratificada e desunida pelo tribalismo, o qual os respectivos chefes e os seus séquitos prolongaram no tempo, estando à mostra de todos, ainda hoje, pelo que percebeu que, unindo e desarticulando essas verdadeiras “capelinhas” sociais, era possível reconstruir a Nação. Só o conseguiu no seu tempo de vida. A coisa está a derreter-se.
Depois da sua morte, a África do Sul descambou, perdeu o norte da decência, mutilou o presente e começou a desfazer o futuro, deixando que o racismo étnico e o tribalismo vigente fossem os coveiros de um País rico e próspero. Os constantes assaltos, os assassinatos, a que se juntou o desemprego (é, presentemente, de 36%), a falta de autoridade e de legítimo cumprimento dos deveres e das leis, a falha de produtos alimentares (foi um dos maiores produtores de hortícolas e não só , assim como frutícola e forte nas pescas) e um crescendo índice de pobreza e de miséria, fez recrudescer a criminalidade e, também, o banditismo e os grupos mafiosos de gatunos…
São impressionantes estes dados, resultado de uma mentalidade tribal: “O número relatado de estupros por ano é de 55 000 e estima-se que quinhentos mil estupros são cometido,s anualmente, no país”. E mais grave:” A África do Sul tem uma das maiores incidências de estupros de crianças e bebês no mundo. Num levantamento realizado entre 1500 crianças escolares no township de Soweto, um quarto de todos os meninos entrevistados disseram que "jackrolling", um termo para estupro em grupo, era algo divertido”.
Instituições Internacionais revelam: “O rendimento médio domiciliar sul-africano diminuiu consideravelmente entre 1995 e 2000” De assinalar que a A. Sul é a menor economia do chamado grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa)..
A África do Sul, descredibilizada, empobrecida, desbaratada, a desfazer-se em termos do seu tecido produtivo, não é mais o Centro de Excelência da Saúde nem tão-pouco um dos Países mais ricos do Mundo. Perdeu-se nos atalhos, nas tabancas e nos emaranhados de um racismo profundo e de um tribalismo de raízes primitivas…
António Barreiros