AINDA A PAZ

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Há coisas de uma evidência tão elementar que não será necessário nenhum curso de Ciência Política para tirar conclusões imediatas.

Imaginemos que se abre um conflito armado, uma guerra, entre dois países. Qualquer guerra é um atentado à razão e à própria vocação humana, pela razão simples de que qualquer forma de vida assenta no facto de quaisquer organizações vitais serem criadas para um ciclo dessa mesma vida e não para o abrupto da sua supressão.

É normal, portanto que, perante a evidência das mais insuportáveis crueldades, o comum dos mortais peça, implore, suplique a paragem da carnificina.

Mas não é esta a normalidade dos combatentes e dos governos e países envolvidos. Porque, seja qual for o momento em que a Paz surja como hipótese , há que saber em que condições , por que vias, por que caminhos de diálogo e de concessões mútuas essa Paz se fará.

Por isso, os pacifismos primários (SE INGÉNUOS) serão simples estados de alma. Nenhum Estado responsável, em processo de beligerância, depõe as armas sem negociar os termos da Paz. A MENOS QUE JÁ ESTEJA INAPELAVELMENTE VENCIDO.

Estou a escrever estas coisas e mal acredito que possa estar a dizer coisas tão imediatamente plausíveis e evidentes. Por isso é que considero de uma ingenuidade quase chocante os clamores dos que pedem a Paz, como se ela fosse tão fácil de obter como o ar que respiramos.

É por isso - pelo facto de não admitir que eu possa estar cercado por uma manada de atrasados mentais e que seja só eu o sujeito individual com o dom do raciocínio lógico - que eu me permito desconfiar de tamanhas e tão insistentes vocalizações em prol da Paz.

Quem me conhece, sabe que respeito os diversos Poderes Espirituais e a diversidade das Igrejas e das religiões. Mas tais Poderes, a menos que já se tenham convertido numa outra -coisa que muito ultrapassa os múnus espirituais - estruturam-se para finalidades que se poderão situar aquém ou além das negociações políticas, territoriais, geoestratégicas e sociológicas que podem ou não viabilizar um processo de Paz.

Invocar hoje o Papado ou um Imã, Deus ou o próprio Diabo, ou os sentimentos da Tia Felismina ou do Senhor Tavares - que - até - é - muito - boa -pessoa, isso tem nome: é o simplismo, a demagogia ou a manipulação na sua forma mais acabada.

Amadeu Homem