AS “PARTEIRAS CURIOSAS”
Um Olhar sobre Profissões que já não Existem
Dar à luz é um dos atos mais nobres que a vida pode oferecer, um momento em que amor e coragem se abraçam entre a dor e a alegria. Ser mãe é amor, e embora seja um momento repleto de beleza, também traz consigo um peso imenso de responsabilidade e medo. Desde o primeiro instante da gestação, as mulheres transportam consigo a promessa de uma nova vida, um ser que não pediu para vir ao mundo, mas que conquista o coração da mãe com um amor indescritível. Não vou falar aqui no amor dos pais, porque embora saiba o amor que também têm aos seus frutos, não têm ainda a capacidade de os gerar, transportar e trazer a este mundo.
No passado, a maternidade era uma experiência profundamente enraizada no lar. As mulheres pariam em casa, muitas vezes assistidas por parteiras conhecidas como "curiosas". Estas mulheres, sem formação, eram escolhidas pela sua experiência e pelo conhecimento que passavam de geração em geração. Eram mães, tias ou vizinhas, sempre prontas para auxiliar em momentos de grande expectativa e dor. Contudo, a vida naquela época não era fácil. As mulheres eram muitas vezes vistas como meros instrumentos de procriação, sem que ninguém lhes perguntasse se desejavam ou não ter filhos. Portugal um país fortemente católico, onde naquela época a contraceção e o controle da natalidade eram considerados pecados, condenados por uma sociedade que não dava voz à vontade feminina.
As casas, fervilhando de emoções, eram palco de gritos de dor, enquanto os homens, do lado de fora, fumavam cigarros, muitas vezes acompanhados por um copo de vinho e um prato cheio de nada, ansiosos pela chegada do novo membro da família. As avós, muitas vezes presentes, aqueciam a água e prepararam o alguidar e a toalha para dar banho ao recém nascido.
As rezas e orações por um parto seguro eram comuns, mas a cruel realidade era que muitas mulheres morriam durante o parto, levando consigo os sonhos e esperanças de uma vida que acabava de começar. A morte, muitas vezes, não era apenas um destino, mas uma consequência da falta de cuidados adequados, da negligência de um sistema que não valorizava a vida das mães e dos bebés.
É fundamental desmistificar a ideia de que essas tragédias eram apenas a "vontade de Deus". A vida é um presente, e o sofrimento não deve ser visto como um desígnio divino. As "curiosas", que outrora desempenharam um papel vital na assistência ao parto, desapareceram com a evolução da medicina e mudanças nas práticas de natalidade. Hoje, as mulheres já não dão à luz em casa, mas isso não significa que o caminho se tenha tornado mais seguro. O encerramento de maternidades em várias localidades força muitas mulheres a percorrerem longas distâncias em busca de assistência, e há casos em que bebés nascem em ambulâncias, devido à falta de cuidados adequados.
A emancipação das mulheres trouxe novas realidades, mas a luta pela maternidade segura e digna continua. Muitas mulheres optam por carreiras profissionais, e a vida familiar transformou-se radicalmente. As crianças de hoje são frequentemente colocadas em infantários, enquanto as vozes das "curiosas" ecoam na história, lembrando-nos da importância de cuidar da saúde materna e infantil.
À medida que olhamos para o futuro, é essencial refletir em tudo isto e tentar encontrar um mundo mais seguro para as nossas crianças. Afinal são elas o futuro do nosso planeta.
Bom fim de semana
Manuela Jones
07/03/2025