BENEFÍCIOS DO CUIDADOR INFORMAL

JO JONES11

 

No último artigo que escrevi, referi me ao problema da saúde mental e à criação da figura do cuidador informal em Portugal.

A Lei nº 100/2019, que regula o cuidador informal em Portugal, estabeleceu diversos pontos importantes relativos aos direitos e deveres desses cuidadores, além dos benefícios da Segurança Social e das dificuldades que enfrentam. Vamos detalhar alguns desses aspetos.

Oficialmente reconhecido em 2019, representa uma resposta necessária a um desafio crescente, o apoio a familiares que necessitam de cuidados permanentes, muitas vezes devido a problemas de saúde mental, doenças crónicas e ao envelhecimento crescente da população portuguesa. A sua importância é frequentemente subestimada, mas o papel que desempenham na sociedade é vital, tanto a nível emocional quanto na economia familiar.

O impacto da decisão de cuidar ou decidir interromper uma carreira profissional, para cuidar de um ente querido, como eu fiz com a minha mãe, é uma escolha que envolve inúmeras considerações pessoais e até sociais. Este ato de amor e dedicação, embora muitas vezes não remunerado, reflete um compromisso profundo com a saúde e bem-estar daquela pessoa. Contudo, esse papel não é isento de desafios. A responsabilidade de cuidar pode ser emocionalmente exigente, desgastante e provocar sentimentos de solidão. O cuidador informal, ao assumir esta função, muitas vezes sacrifica não apenas a sua carreira, mas também a sua vida social e, em muitos casos, a sua saúde mental.

A decisão de formalizar esta posição através da documentação necessária, há cerca de um ano e meio, foi uma decisão e um passo importante. Este registo não apenas legitima o papel do cuidador, mas também abre portas a um conjunto de direitos e benefícios que anteriormente não existiam . Este reconhecimento é essencial para garantir que os cuidadores informais tenham o suporte necessário para desempenhar a sua função da melhor forma possível.

A criação do estatuto do cuidador informal em 2019 trouxe consigo um conjunto de vantagens beneficiam também o Estado. Por um lado, o reconhecimento oficial permite que os cuidadores tenham acesso a um pequeno apoio financeiro. Um subsídios de aproximadamente quatrocentos euros que de alguma forma ajuda a aliviar a carga económica que muitas vezes acompanha a prestação de cuidados. Por outro lado, ao proporcionar formação e recursos, o Estado contribui para que os cuidadores se tornem mais competentes e seguros nas suas funções, melhorando a qualidade dos cuidados prestados.

Além disso, a implementação deste estatuto também implica uma economia ao nível do sistema de saúde. Ao apoiar cuidadores informais, o Estado pode reduzir a pressão sobre os serviços de saúde pública e institucional, uma vez que muitas situações de dependência podem ser geridas em casa, num ambiente familiar. Isso não apenas resulta numa poupança financeira, mas também assegura uma forma de cuidados mais humanizada e adaptada às necessidades individuais.

Apesar dos progressos, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que os cuidadores informais recebam o apoio que necessitam. Estimativas recentes indicam que o número de cuidadores informais continuará a crescer à medida que a população envelhece. Portanto, é imperativo que as políticas públicas se ajustem a esta realidade, promovendo programas que não apenas apoiem os cuidadores, mas que também sensibilizem a sociedade para a relevância do seu trabalho.

A inclusão de serviços de apoio psicológico, redes de partilha entre cuidadores, e a promoção de estratégias que ajudem a conciliar o papel de cuidador com outras áreas da vida são passos fundamentais. Ao tornar o cuidado mais sustentável e menos solitário, poderemos não apenas melhorar a qualidade de vida dos cuidadores, mas também, e sobretudo, assegurar que aqueles que recebem esses cuidados possam viver com dignidade e respeito.

Em resumo, o papel do cuidador informal em Portugal, cada vez mais reconhecido desde 2019, é um reflexo da compaixão e solidariedade que antes não existia. Ao valorizar e apoiar esta função e dedicação, estamos a construir um futuro mais justo e humano para todos. Na passada semana, algumas alterações foram feitas na legislação alargando um pouco mais o estatuto do cuidador informal.

Que os nossos idosos possam usufruir de um fim digno junto dos seus que decidiram dedicar se de alma e coração e que não acabem em centros ou lares onde são muitas vezes "despejados" e completamente esquecidos à espera de um final sem dignidade nem acompanhamento familiar.

Manuela Jones