“CASADOS À PRIMEIRA VISTA” E OS SEUS REFLEXOS

JO JONES38

 

O Reflexo de uma Sociedade em Transformação

Nos dias de hoje, o amor e as relações pessoais parecem estar numa dança constante de metamorfoses. Hoje vou abordar mais um tema que me deixa perplexa, senão preocupada.

O programa "Casados à Primeira Vista, "ao qual vou assistindo na "diagonal" estimulada pela minha mãe que embora com todas as suas limitações provocadas pela doença, vai tendo umas conversas muito interessantes à cerca do tema onde exemplifica essa transformação, em relação ao que outrora viveu, desafiando a um interessante debate da maneira como os seres humanos se conectam atualmente.

Aliás vai pedindo para que nunca me inscreva num programa destes, mesmo que a festa a viagem de núpcias possam ser desafiantes e agradáveis. Naturalmente que não me identifico com este conceito e nunca iria participar num desafio destes.
Ao propor casamentos baseados em critérios científicos e compatibilidade de perfis, suscita questões profundas sobre a autenticidade e a profundidade do amor na era moderna, revelando-se um espelho da sociedade contemporânea.

Recentemente, decidi aventurar-me no mundo dos encontros online, inscrevendo-me em numa plataformas durante três dias para poder escrever um artigo sobre esse tema. A experiência revelou-se um verdadeiro labirinto de superficialidades, embora eu tivesse acabado a aventura com uma agradável surpresa.

O que antes era uma oportunidade de conexão genuína, da necessidade de namorar, daquela magia do encontro, agora assemelha-se a um jogo de aparências, onde as interações são tão efémeras quanto um "swipe".

Assim como no fenómeno dos "engates do Mercadona", do qual também escrevi há algum tempo, onde a decisão de compra é muitas vezes baseada em rótulos e apresentações atraentes, os encontros online transformam-se numa escolha apressada, negligenciando a verdadeira essência do outro.

Um dos maiores perigos que emerge desta abordagem superficial é a banalização do amor. A busca por um parceiro torna-se um exercício mecânico, quase como escolher um produto numa prateleira. A interação humana, que outrora se construía em conversas profundas e olhares significativos, está a ser sacrificada em nome da conveniência. A falta de contacto pessoal e de interações significativas pode resultar numa geração que não sabe realmente o que significa amar ou ser amado. O amor, que deveria ser um dos mais belos sentimentos, começa a perder a sua magia, transformando-se numa transação fria e calculada.

É fascinante observar que, enquanto os casamentos arranjados eram, outrora, alvo de críticas por serem uma forma de controle social, hoje assistimos a um fenómeno semelhante disfarçado em modernidade. O consumismo exacerbado tornou-se o novo normal, onde as relações são tratadas como mercadorias. A promessa de encontrar o amor ideal em poucos cliques pode parecer tentadora, mas esconde um profundo vazio emocional que nos leva a questionar o que realmente valorizamos nas nossas vidas.

Então, o que se passa na nossa sociedade?

Estamos tão focados em encontrar o amor de forma rápida e eficiente que esquecemos a importância da construção de uma história a dois?

O programa "Casados à Primeira Vista" é apenas um reflexo de uma era que busca acelerar tudo, até mesmo o amor. É crucial alertar para os perigos que essa aceleração acarreta. O amor não é um produto a ser consumido. É uma experiência que requer tempo, dedicação e, acima de tudo, autenticidade.

Que possamos, então, redescobrir a beleza da interação humana, valorizar os momentos de conexão genuína e lembrar que o amor verdadeiro não se encontra em algarismos, mas nas pequenas coisas do dia a dia. Afinal, no meio de tanta rapidez, talvez o melhor conselho que possamos levar do Mercadona seja:
se não encontraste o amor, ao menos junta uma banana à tua compra, porque, com a falta de magnésio, nunca sabemos quando precisamos de um pouco mais de energia para enfrentar o dia!

Bom fim de semana.

Manuela Jones