E O ÓSCAR DA INCOERÊNCIA VAI PARA...JOSÉ MANUEL SILVA
Senhoras e senhores, guardem os vossos títulos de transporte (os poucos que ainda funcionam), porque hoje a viagem é gratuita — uma excursão guiada ao surrealismo camarário. O nosso guia? O excelentíssimo presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. José Manuel Silva, o homem que herdou uma cidade em “estado terminal” mas mesmo assim, com um sorriso tenso e uma mão trémula, estende medalhas aos supostos causadores do coma profundo.
Sim, é isso mesmo. O mesmo presidente que há quatro anos faz questão de repetir — como quem está preso num looping de “terapia de grupo” — que herdou um buraco negro financeiro, uma empresa municipal moribunda, autocarros a cair aos bocados, e agentes únicos que continuam tão únicos que chegam a ser invisíveis… é o mesmo que agora, com pompa e circunstância, pretende condecorar os responsáveis por essa gloriosa herança de miséria.
Se isto não é humor negro de luxo, não sabemos o que será.
Entre a Amnésia e a Medalha
A verdade é esta: ninguém pode dizer que José Manuel Silva não tem memória. Tem, sim senhor — mas seletiva. Para se justificar, recorre ao passado com mais frequência do que um velho reformado a lembrar-se do tempo da tropa. Mas quando chega o momento de apontar o dedo a quem cavou o buraco… surpresa! Em vez do dedo, estende uma medalha.
«– Ah, eu herdei uma cidade falida!»;
«– Ah, os SMTUC eram um cemitério de frotas!»;
«–Ah, os agentes únicos nem tinham certificação!»;
«–Ah, toma lá uma medalha, grande líder!»;
Coerência? Só se for na paragem do 38 que nunca mais aparece.
E os SMTUC?
Ah, os pobres SMTUC… esses sim mereciam uma medalha. Ou, vá, pelo menos um minuto de silêncio. Continuam com viaturas pré-históricas, ar condicionado que é só decorativo, horários que desafiam a lógica e agentes únicos que fazem de condutor, psicólogo, fiscal e às vezes até de GPS — tudo ao preço de um salário mínimo.
E enquanto o atual executivo ainda não conseguiu resolver o que tanto criticava…resolve distribuir condecorações.
Epílogo irónico:
No fundo, isto é quase poético. O homem que passou quatro anos a fazer-se de vítima, agora veste o fato de anfitrião de gala. Dá medalhas a quem — segundo ele— o deixou sem dinheiro, sem autocarros e sem paciência.
É o equivalente político de te queixares que o teu vizinho incendiou a casa… e depois convidá-lo para cortar a fita da reconstrução.
Coimbra está de parabéns.
Não pelos transportes, nem pela coerência política…mas por conseguir manter-se de pé com este nível de teatro institucional.
À saúde de quem destrói… e de quem condecora!
Sancho Antunes