Em flagrante
Era comum Fernando Pessoa, quando se encontrava a trabalhar, levantar-se, pegar no chapéu, ajeitar os óculos e dizer que ia até ao Abel. Este hábito do poeta intrigou um colega de trabalho, Luiz Pedro Moitinho de Almeida, que se apercebeu, algum tempo depois, que as idas ao Abel eram, nada mais nada menos, que uma visita ao depósito mais próximo, da casa Abel Pereira da Fonseca, fundador da Companhia Agrícola do Sanguinhal, para tomar um copo de vinho.
Em homenagem ao poeta e ao fundador desta empresa, foi recriada a marca de vinhos Casabel. Nos rótulos, foi reproduzida a dedicatória que Pessoa fez a Carlos Queirós (1907-1949): “Carlos: Isto sou eu no Abel, já próximo do paraíso terrestre, aliás perdido”.
Ofélia, eterna namorada do autor de Livro do Desassossego, e tia de Carlos Queirós, quis uma fotografia igual à recebida pelo sobrinho e, quando Pessoa lhe fez a vontade, ofereceu-a com uma dedicatória: “Fernando Pessoa em flagrante delitro”.
Bertrand Livreiros