ENTRELAÇADO DO ISLAMISMO EM PORTUGAL

ENTRELAÇADO DO ISLAMISMO EM PORTUGAL

Em Portugal, pouco se conhece sobre o Islão enquanto religião.
Os estudos islamológicos, em Portugal, remetem-se à linguística e à filologia é o estudo do “Islão Civilização”. O estudo da religião e da forma como foi influenciado pela cultura portuguesa e como o Islamismo influenciou o pensamento em Portugal ainda não está estudado, pelo que me é dado saber.

A necessidade de se entender o Islão na sua forma religiosa é também entender melhor a “alma portuguesa”, pois que o coração português também é islâmico e sente que não há só uma versão das coisas.

O português entende a vida como uma linha entre o nascimento e a morte para cada um de nós sejamos judeus, cristãos ou islâmicos ou de outra qualquer religião, ou sem crença em coisa nenhuma. Mas os acontecimentos da História são o entrelaçado de todos estes fios de cores diversas e bonitas, que é a vida de cada pessoa, formando padrões e desenhos como num tapete persa ou de Arraiolos - para usar um exemplo que também aproxima o Islamismo a Portugal.

A vida de cada um de nós, islâmicos, entrelaça-se no colorido do grande tapete que é a História de Portugal. Desde o fio de cores mais vivas como foi o de Ibn Sara As-Santarini, um dos poetas de Santarém que nasceu em meados do século XI, durante o domínio muçulmano; ou o do Poeta Almatumide, que foi Rei em Sevilha apesar de ter a sua naturalidade em Beja - bebendo a inspiração na cidade portuguesa.

Como o Islamismo é também poesia não resisto a transcrever uma parte de um poema de Ibn Sara:
«A Terra apressa a nuvem
Para que lhe acabe o manto.
E a nuvem com uma mão
Entretece fios de chuva
E com outra vai-o enfeitando
Com um bordado de flores.»

Como num poema ou num padrão de tapete só os contrastes definem a figura, assim também é a religião Islâmica. O Islão é uma grande realidade diversa e dinâmica e não uma totalidade monolítica que a tornam, mais no Ocidente, como uma crença de fanáticos e terroristas.


O Islão viveu, e ainda vive, da diáspora que se expressa em correntes teológicas e práticas rituais múltiplas. Talvez as mais importantes sejam: a tradição sunita como corrente maioritária e o Islão xiita nas sua vertente dos ismaelitas ou septimanos, onde me enquadro. Nós vivemos sob a autoridade do descendente direto do Profeta Maomé, o Príncipe Karim Aga Kahan, e defendemos a vanguarda pelo desenvolvimento económico e cultural alimentada pela nossa ética de fé.

Para que se tenha uma ideia como nos entrelaçamos na cultura portuguesa basta vermos como a Comunidade Ismaili está alicerçada sobretudo em serviço voluntário e o nosso Príncipe e líder Karim Aga Khan encoraja-nos os ismaelitas a contribuir para o progresso das comunidades nos países em desenvolvimento tanto a nível social, cultural e económico.

Em Portugal, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento conta com uma presença ativa desde 1983, tendo sido a Fundação Aga Khan Portugal oficialmente reconhecida por decreto-lei como uma Fundação Portuguesa em 1996, ano em que foi criado o Centro Ismaili em Lisboa.

Somos parte de um todo que também é Portugal e talvez por isso vale a pena investir-se no estudo onde o Islamismo, religião, criou bonitos padrões no tapete da História de Portugal.

Termino com um poema do islâmico Kabir:

«Todos vêm uma gota
de água no ocenao
mas poucos o oceano
numa gota de água»

Yousef Hassan
Economista