Maus augúrios
1. O Governo do novo e progressista Presidente do Brasil acabou de criar uma Procuradoria para a Defesa da Democracia, cujo principal objetivo é, e passo a citar, "contribuir com os esforços da democracia defensiva e promover pronta resposta a medidas de desinformação e atentados à eficácia das políticas públicas". A censura, ou, se preferirem, o exame prévio, está de regresso e em força, desta vez abençoada pela esquerda progressista (o que não é novidade).
2. Para que os brasileiros não fiquem impedidos de denunciar essa desinformação, até foi criado um endereço eletrónico (denuncia@mj.gov.pt), para onde devem ser remetidas as denúncias. Registe-se, assim, que uma das primeiras medidas do novo governo foi criar uma rede de denunciantes/informadores, o que é elucidativo do seu conceito de democracia Aliás, o Ministro responsável por estas medidas é, há muitos anos, um admirador confesso desse grande democrata, José Estaline, tendo sido membro do estalinista PC do B (Partido Comunista do Brasil), que teve origem numa dissidência do PCB, por este partido criticar as políticas estalinistas.
3. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. O equivalente aos antigos "bufos" da PIDE (ou da Stasi, mais ao gosto do ministro) podem ressuscitar, com a diferença de que, agora, nem precisam de ir às instalações de uma qualquer polícia política, pois podem denunciar o que bem lhes apetecer com um simples clique. Bem-vindos ao novo mundo, um mundo onde as denúncias virtuosas feitas à canhota são apreciadas e tidas como libertadoras ao impedirem-nos de aceder à desinformação.
4. Há uns tempos, já com este governo, estas ideias peregrinas também tentaram fazer caminho em Portugal. Como houve alguma reação, a solução foi atribuir uma verba de 15 milhões de euros à Comunicação Social (felizmente nem todos aceitaram esse dinheiro) estimulando, desta forma, a autocensura, até porque quando o cão morde a mão que o alimenta....
5. Recuando um pouco mais no tempo, é bom que nos lembremos das tentativas de Sócrates para controlar certos órgãos de comunicação social e da perseguição movida a certos jornalistas. Por algum motivo, recebeu um convite para a tomada de posse de Lula.
6. Dito isto, lamento que um país com a importância e peso do Brasil não tenha sabido escolher candidatos que tivessem impedido Bolsonaro e Lula de terem sido as únicas opções na segunda volta das eleições. Como diz o povo, "Venha o diabo e escolha".
António Franco