O Admirável mundo Velho

 

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Traz-me uma recordação de nós enquanto arrumo a utopia de viver em liberdade e em paz. Temos de recomeçar o nosso mundo, novamente. Abalar deste. Ter esperança que os aviões voltem a voar e nos transportem para longe deste occídio - sem impedimentos e sem artimanhas!..

 

Ando a procurar-vos pelos escombros das casas e das almas e das decências e não vos encontro! Por onde andam, amor? Por que não atendes o telemóvel? Preciso encontrar-vos. Rever-vos. Abraçar-vos. Sentir-vos. Tocar-vos. Sonhar-vos. Acariciar-vos. Sorrir-vos se ainda o conseguir fazer. Chorar que seja.

 

Tenho medo por nós, amor. O futuro! A dignidade que não podem ousar furtar-nos, para conjuntamente com ela vivermos com os miúdos…

 

Por favor, atende o telemóvel, amor! Se é que ainda não to confiscaram. Temos de partir para longe de Cabul. Abalar. Ir para um lugar que os americanos não invadam até que o abandonem, destruído de tudo. Principalmente de dignidade. Ah, a dignidade!...

 

[Por onde andas, amor? Eu ando à Vossa procura!...]

 

…]

 

© Luís Gil Torga

(O Autor não respeita o AO90)

(Foto retirada da Net)