O SALTO QUE O BRASIL E PORTUGAL NECESSITAM DE DAR
Há séculos que a imigração faz parte da história de Portugal e do Brasil, mas o último fluxo migratório foi no sentido do país europeu em direção ao país americano, para desbravar novas terras e amealhar para fazer a vida, fosse com uma padaria, um talho ou no comércio em geral num sentido menos colonialista.
No Brasil “o português” sempre foi conhecido como o comerciante que subia na vida a custa de trabalho árduo, fazendo sol ou chuva, o tempo não aferia a labuta.
Muitos enriqueceram, fizeram a vida e a família, alguns voltaram a Portugal e muitos viram novas gerações crescer no Brasil enquanto o tempo passava e diminuía a vontade de regressar e atravessar o Atlântico.
A história já contou com muitas versões, dos exploradores a explorados, mas as semelhanças são grandes entre pai e filho. Apesar das birras próprias de familiares.
Há quase duas décadas Portugal recebia por volta de 200.000 imigrantes e no último relatório quase 150 mil brasileiros foram autorizados a residir em Portugal em 2023.
O número de imigrantes legalizados em Portugal atingiu, no ano passado(2023), 1.044.606. Os brasileiros são 35,3% desse total, ou seja, 368.449 cidadãos, mais de seis vezes a segunda nacionalidade.
O Brasil representa o maior número dos residentes estrangeiros, e dentre as diversas origens ainda estão representados os cabo-verdianos e angolanos em menores proporções, 4,9 e 3,7% respetivamente, dentro da lusofonia.
A faixa etária mais representativa encontra-se entre os 25 aos 40 anos revelando que é a força trabalhadora no seu auge que imigra. As residências são as grandes cidades, como em qualquer país cuja busca de emprego faz-se de forma mais rápida, mesmo que sejam trabalhos com menor qualificação.
Na última década o fluxo inverteu, uma quantidade maciça de brasileiros imigraram para Portugal pelo desgosto do crescimento deficiente do país e da política de injustiças. Um país super-populoso como o Brasil com uma população estimada de 212,6 milhões de habitantes em 2024(segundo IBGE https://agenciadenoticias.ibge.gov.br) tem vindo a decrescer.
A busca de conhecimento sobre o país que deu origem ao Brasil através do turismo, do aperfeiçoamento profissional nas renomadas universidades europeias, ou na busca de uma vida melhor com emprego num país que fala a mesma língua, e com reduzida população e menor criminalidade, são os interesses dos imigrantes que partem dalem mar na direção do velho mundo.
Das novelas e programas satíricos, aos filmes e documentários brasileiros, Portugal sempre teve acesso a literatura brasileira e a adocicada pronúncia do português americano, e por isso não confunde ao ouvir o imigrante no seu território.
Embora o PIB do Brasil em 2022 seja cerca de 1.9 biliões não aparece nas tabelas em posições da economia mundial, enquanto Portugal conta com um PIB de 252 milhões, na 43º posição no ranking mundial. A diferença está na distribuição per capita, cujo valor é de 24,5 dólares para um português enquanto que um brasileiro tem uma renda per capita de 8,9 dólares (https://countryeconomy.com/).
A desorganização social e económica do Brasil, apesar do seu grande potencial económico, gera pobreza e desigualdade aumentando o fluxo de imigração. Mas Portugal como uma pai que recebe o filho pródigo, está sempre de braços abertos para acolher os seus.
Há muito que aprender com o velho mundo, que com pouco descobriu novas fronteiras e plantou a semente de uma cultura que não faz diferenças e aceita o novo como promessa de um mundo melhor.
Perante estes dados é necessário que o Brasil reveja a sua História num sentido mais isento e justo em relação a Portugal para poder dar o salto rumo ao desenvolvimento tão esperado por brasileiros e por quem tem o português como expressão oficial.
Mara Braga
Investigadora