«O VERÃO ENLOUQUECE AS PESSOAS»
A frase “o Verão enlouquece as pessoas” - não é minha! Isto que se diga por uma questão de defesa dos direitos autorais. A minha amiga Mara Elga é a real autora desta frase, quase filosófica. Se há responsabilidades a pedir deve ser a ela, não a mim.
Os meus quase 3 amigos seguidores, nas redes sociais, podem questionar a veracidade desta ideia, desculpem-me desde já, mas é com ela que têm que reclamar, não é comigo. Ficam já avisados os meus seguidores.
A minha opinião, sobre esta permissa filosófica, até acho que...”nim”. Nem sim, nem não. E até já lhe revelei esta minha opinião, meio umbiguista, para ficarmos esclarecidas.
«- Sim, Mara, eu coloco-me no muro. Nem para lá, nem para cá, apenas em cima do muro. Bem sei como odeias o morno, mas olha para mim: neste caso fico muito bem em pé sobre o muro. Tem uma vista tão linda daqui. Desde que nos possamos equilibrar, está claro!»
Muito me aponta a Mara as razões para passar para o lado do sim que divide o muro onde me encontro em pé. Reitera com os vestuários ridículos de quem se cruza connosco. Bem me aponta os carros estacionados que impedem a passagem dos outros. Repetidamente me recorda a maneira como as pessoas respondem “alhos” quando se pergunta “bugalhos” e repete a ideia: «- Não te disse que o Verão enlouquece as pessoas? Ficam muito piores!»
A Mara deixa clara que a sua teoria digna de um Wittgenstein, de um Langshaw, ou até...porque não? De um Kirk ou até ir mais longe nos grandes filósofos até um Jürgen Habermas ou até, topo do topo do bolo filosófico, o pensamento da Arendt, está devidamente confirmada com a realidade tal como se vê.
Eu, que carrego o grande bolo filosófico, repleto de "crème de la crème", ainda lhe digo no alto do meu muro, entre o ‘sim’ e o ‘não’ sobre se “o Verão enlouquece ou não as pessoas” : «- Mara, sê mais paciente!» e ela responde na velocidade de pessoa rápida no gatilho: «- Não! Já me deram alta!»
E de enlouquecimento que vem ao de cima com o Verão, ou não, acabo a meter o copo de água fresca à boca para me esconder o riso e deixar-me pensar.
A verdade é que a sociedade dá corda ao seu pragmatismo progressista. Que reduz as pessoas a máquinas, tal como hoje se quer que as máquinas façam as vezes das pessoas. A sua exatidão e automação superam as nossas falhas, as nossas diferenças, as nossas parvoíces e tornam-nos cada vez mais redundantes, versões obsoletas que se impõe erradicar pela enorme falha derivada da humanidade e substituir por modelos eficientes e normalizados sem necessidade de psicologias. Como se desejam as novas pessoas frias.
Escapam os países com mais sol.
Que na sua temperatura quente dá espaço ao humano. Sim, também ao louco. Sim, mas não só. A minha amiga é natural do Brasil desse país onde se prolonga o Verão no seu reino da contradição incerta, dessa “metamorfose ambulante” e, também, da loucura.
«Ora ainda bem!» - digo-lhe eu enquanto penso que serão sempre melhores os países solarengos do que os países frios e calculistas que pretendem transformar gente numa engrenagem bem oleada da cadeia de produção. Deparo-me hoje com a realidade da desvalorização da criação humana face a uma inteligência artificial que torna a criatividade aparentemente desnecessária.
Depois de um golo de água longo, pico com colher bicuda a rodela de limão, afogada na minha fresca água, dando pretexto para tudo aparecer à minha mente. O andar sensual do calor e a loucura das roupas sem soutien. A excentricidade de exigir aos outros o seu tempo - qual ditadores desrespeitosos. Ou até de loucos personagens de teatro que nos fazem libertar uma grande gargalhada por não entenderem nada do que se passa na peça. Digo-lhe: « - Mara, o enlouquecimento das pessoas anda de mão dada com a criatividade. Não é o génio que é louco, mas o louco, que só por si, já é genial.»
Desatamos numa gargalhada cúmplice de quem partilha o «nim» e acabamos por nos recolher a uma troça apontada aos outros, qual sombra fresca desta loucura que é muito maior na normalização da psicologia do que na extravagância de assumirmos o direito à parvoíce e ao enlouquecimento.
Fica assim o que me passa pela cabeça durante os intervalos de silêncio onde me gritam os desordenados pensamentos. Desta vez equilibrei-me no muro.
Maria Júlia