PINHAL DE LEIRIA VERSUS AMAZÓNIA
Entra ano e sai ano e a noticia, na maior parte da grande comunicação social, é sempre a mesma: «Neste verão tomem cuidado com as altas temperaturas próximas de 40 ºC (podem chegar a 50 ºC!) que originam incêndios florestais e rurais.»
Para quem fica pelas notícias da TV e pela observação rápida dos títulos dos jornais em notícias “fastfood” no telemóvel, é logo convencido da existência do aquecimento global e dos constrangimentos originados pela capitalismo na compra excessiva de produtos, e no desperdício que gera toneladas de lixo e está a acabar com o ambiente.
Mas ninguém se lembra do custo de mais de um salário mínimo dos telemóveis feitos com alta tecnologia e televisores com “touch screen” e da poluição gerada com esta produção.
Grande incoerência dos “ecologistas de estação” ou de moda!
Mas vamos falar em números para facilitar a nossa análise: a Pordata (https://www.pordata.pt/) apresenta um levantamento de 2.349 incêndios florestais em Portugal continental em 1980 e 13.261 incêndios em 2016, com uma área total ardida em 1980 de 44.251 ha para 110.097 ha em 2022.
Os incêndios estão aumentar numa velocidade média de 1829 incêndios por ano, e a área florestal está a ser diminuída drasticamente!
O problema que se coloca é: Será que a verdadeira razão destes incêndios que dizimam a floresta portuguesa é atribuído ao desequilíbrio ambiental ou à má gestão dos espaços públicos?
A paisagem no meio urbano e rural consiste na integração do património natural e do construído pela mão humana, que permitem o desenvolvimento de uma comunidade em comunhão com o espaço de forma saudável e integrada.
Muitas cidades no planeta tem promovido ações isoladas para manter a paisagem como meio de desenvolvimento humano, de forma a não perder a ligação com a natureza já alterada. Mas muitos ainda preferem fazer uso dela sem pensar no que acontecerá nas próximas décadas.
Voltando aos números: a mesma Pordata apresenta dados das temperaturas anuais em todo o país com o crescimento do tal 1±1 ºC, de 1980 até 2022. É essa diferença que promove os incêndios ou falta de conhecimento em como gerir a floresta e tirar partido dos seus benefícios de reduzir a temperatura ambiental, melhorar a qualidade do ar (consumir o CO 2 gerado), promover espaços lúdicos para ensinar
e conhecer a natureza, etc.?
Os japoneses já há centenas de anos promovem a filosofia do banho de floresta (ou shinrin-yoku em japonês), com todos os benefícios para a saúde descritos em literatura e agora nas redes sociais. Na Europa, foi recentemente anunciado pelo conselheiro para a transição ecológica de Paris, Dan Lert, que irá remover 40% do asfalto e plantar 170.000 árvores até 2026, com o objetivo de reduzir as temperaturas altas na cidade.
Outras medidas passam por implementar mais fontes de água, guarda- sóis e pulverizadores em toda a cidade. Mas Portugal está a arder...com 110 mil ha perdidos no último ano, e pergunta-se quais as medidas foram tomadas depois do incêndio no pinhal de Leiria em 2017?
Uma área no total de 86% da Mata Nacional de Leiria ardeu, um equivalente a 12 mil campos de futebol! Nem essa comparação chama a atenção aos adeptos do desporto nacional.
O projeto Renature gerido pelo Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (Geota) só arrancou em janeiro de 2022 para replantar o espaço, 5 anos depois do trágico acidente! Dos 11 mil hectares perdidos, segundo o ICNF apenas 2652 hectares foram re-implantados e 1773 hectares foram repovoados por via natural.
Mas a natureza tem os seus próprios recursos apesar do ser humano.
Será essa a estratégia de gestão do espaço público dos nossos atuais governantes, deixar que a natureza recupere-se sozinha?
A gestão lenta e ineficaz deve ser denunciada, pois muitos de nós já não veremos o pinhal de Leiria recuperado, mas é mais fácil olhar para a Amazónia e culpar o vizinho.
MB