PRINCÍPIOS E VALORES QUE NÃO SE ESQUECEM

ROSARINHO PORTUGAL 18

 

Esta semana resolvi esquecer política e lembrei-me de falar sobre uma pessoa que me marcou muito e de quem tenho muitas saudades. Mas na história, vai aparecer uma figura política do nosso País, que pode gerar polémica.


Vou-vos falar de uma mulher, linda para a época, cabelos negros e olhos pretos. Eu já a conheci com o cabelo todo branquinho. Mas aquele branco, branco! Lindo!


Chamava-se Ester. Filha de um homem muito rico que tudo gastou no jogo, no Casino da Figueira da Foz. Ficou sem mãe aos 7 anos. Desde novinha os médicos diziam que ela era muito frágil com uma saúde debilitada.


Morreu aos 96 anos e nunca conheci uma velhinha como ela.
Seu pai mandou as duas filhas para o melhor colégio da altura. Lá, recebeu uma educação esmerada e até uma instrução que não era acessível à maioria das mulheres na altura. Lia muito e tinha uma Cultura Geral acima da média.


Viviam em Coimbra, na Rua Ferreira Borges, a irmã, que mais tarde casou, foi viver para Vouzela.
Pela altura do Natal foi com seu pai para Vouzela. Seu noivo e o pai foram também passar lá uns dias. Mas o jovem morreu e tiveram que retirar o corpo lá de casa sem que a Esterzinha desse conta.
Mais tarde teve que saber o que se tinha passado.


E durante anos se manteve solteira, tentando curar o seu desgosto.


Tinha uma prima, que tinha uma casa em Santa Comba Dão. Era um local de férias. Havia um casal que tomava conta da casa, na ausência dos donos. Esse casal, tinha um filho a estudar na Universidade de Coimbra. No verão ia para casa dos pais e passava muito tempo com as irmãs. Ester, como já falei atrás, tinha uma cultura geral bastante razoável e adorava conversar.


Passava horas à conversa com António, o jovem estudante de Coimbra e tornaram-se grandes amigos.
No leito de morte, o pai de Ester, fê-la prometer que se casaria com um amigo dele, de Vouzela, o Sr. Castela que trabalhava nas Finanças em Vouzela. E assim foi. Casaram!


Do casamento, tiveram dois filhos: Ofélia e João. O mais novo, o João era deficiente profundo. Só a sua cabeça era algo de extraordinário.


Assim, a partir daqui vou desvendar quem foi a Ester. Minha bisavó! Ofélia, sua filha era minha avó.
Minha avó casou com um homem muito bom, Regente Agrícola, na altura, hoje são engenheiros. Casaram e foram viver para o Fundão. Levou consigo os pais e o irmão,


Meu avô, nunca se importou de ter com eles os sogros e cunhado. Minha bisavó era uma doidice com o genro. Lá no Fundão nasceu minha mãe e três irmãos.

Entretanto meu avô veio trabalhar para a Escola Agrícola em Coimbra. Lá moraram uns anos na antiga casa do Bispo.


E chega a minha geração! Fui a primeira! Primeira filha, neta, bisneta, sobrinha.
Minha bisavó partiu já eu tinha 18 anos. Muito do que sou a ela devo. Era extremamente exigente! Ai de quem não soubesse estar à mesa. Quantas vezes chegava junto dela e lá tinha eu que ir buscar o pente, para fazer a risca do cabelo direitinha.


Lia muito para o filho. Lembro-me de ficar sentada ao lado dela, a ouvir ler. Assim conheci muitos escritores portugueses. Ela incutiu em mim o gosto pela leitura.


Lembram-se do António, o estudante de Coimbra? A amizade deles, perdurou no tempo e António até foi padrinho de baptismo do meu tio João, o irmão da minha avó.


Quem foi este António, com quem minha bisavó, trocou tanta correspondência? Nada mais, nada menos que António Oliveira Salazar. Minha bisavó leu-me algumas cartas, pois eu via-me aflita para decifrar a letra dele. Até conselhos lhe pedia.


Infelizmente fizeram sumir essas cartas.


Quando se deu o 25 de Abril, tanto ela como o meu tio, quando os interroguei porque tinha que ser PSD, porque toda a família o era, foram eles que me abriram os olhos. Com aquela idade, estava por dentro do assunto, sabia o que queria.


Até ao fim dos seus dias, era um consolo olhar para ela. Cabelo sempre arranjado, lencinho ao pescoço, a sua água de colónia de toda a vida. Nos últimos tempos ao jantar já só bebia uma chávena de leite ao jantar. Julgam que deixava de ir fazer a sua higiene oral? Nunca!


Uma Senhora! Independente, segura de si, autoritária e guerreira! Uma amiga, que me ensinou princípios e valores que nunca esqueci.


Rosário Portugal