PROFISSÕES QUE DESAPARECERAM

JO JONES18

 

Desde já quero desejar um bom Ano 2025 a todos os nossos leitores. No seguimento dos temas que iniciei em 2024 sobre algumas das profissões que desapareceram, vou dar continuidade a este tema que acho interessante para os mais novos e recordar os jovens de outras gerações como a minha. Será também uma forma de homenagear esses homens e essas mulheres que contribuíram para o nosso bem estar cuja vida nem sempre foi fácil.

Na memória coletiva de muitos de nós, a experiência de ir ao cinema durante a juventude carrega um encanto especial. Recordo-me claramente da atmosfera vibrante que pairava no ar, com a luz suave das lâmpadas a iluminar as ruas, enquanto os adeptos do sétima arte se aglomeravam nas entradas das salas. No meu tempo de adolescência, o meu cinema favorito era o Tivoli e o teatro Avenida. À porta, o senhor da lanterna esperava, figura emblemática que, com um gesto cortês, acompanhava cada espetador até ao seu lugar. A sua lanterna, sempre acesa, iluminava o caminho para a aventura que se desenrolaria na tela do cinema, uma luz que não só nos guiava, mas também prometia mundos novos, cheios de possibilidades e histórias por contar. Naturalmente que, muitos de nós queríamos era que as luzes se apagassem para podermos trocar alguns beijos clandestinamente.

Infelizmente, muitas dessas profissões que faziam parte do nosso quotidiano caíram na poeira do tempo. As leiteiras, por exemplo, com os seus cântaros a transbordar de leite fresco, que nos batiam à porta de casa ao amanhecer, entregando um produto ainda quente, são uma reminiscência de tempos mais simples. O seu sorriso e a conversa matinal trouxeram um calor humano que as prateleiras dos supermercados não conseguem substituir. A tradição, que passava de geração em geração, deixou de ser uma rotina, perdendo-se num ritmo acelerado de vidas cada vez mais isoladas.

Ainda mais distante no tempo, pensa-se nos telegrafistas. Aqueles que traduziram emoções em mensagens codificadas, ligando pessoas em diferentes partes do mundo. Cada telegrama enviado era um pedaço de vida, um recado que cruzava mares e continentes. Quantos de nós não tivemos familiares que fizeram o serviço militar em África durante o período conturbado do Estado Novo? Que partiam para uma guerra e que por vezes deixavam os corações das mães a sangrar de angústia com falta de notícias. Cada telegrama, com as suas palavras cuidadosamente escolhidas, aliviava a preocupação e trazia notícias, desafiando a solidão da distância. Por vezes também traziam o luto e as lágrimas.

Ainda me recordo das cartas que o carteiro trazia com um " fumo" negro que anunciava luto ou morte. O papel onde era escrita a carta era quase como hoje o papel vegetal. Fino e transparente.

Neste entrelaçar de histórias, somos levados a refletir sobre o peso das memórias e a transitoriedade da vida. As profissões que desapareceram e as vidas que se entrelaçam nas mensagens do passado são um testemunho da nossa evolução, mas também do que perdemos pelo caminho. Hoje vivemos na era digital, onde a inteligência artificial consegue fazer em segundos o que estes homens e mulheres faziam durante uma vida. É verdade que já não nos trazem a leiteira ou homem da lanterna. Olhando para trás, aprendemos com as histórias que nos foram contadas e, ao mesmo tempo, plantamos sementes de nostalgia para que as futuras gerações entendam que, por detrás de cada profissão e de cada mensagem, há sempre um mundo de humanidade que nos conecta.

Boas leituras e bom fim de semana.

Manuela Jones