Quem ama mais e melhor: eles ou elas?

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Surgiu, há alguns dias, em conversa com amigos, a questão da mensurabilidade e qualidade do amor nos homens e nas mulheres. Aliás, é um hábito enraizado socialmente, comumente aceite como verdade universal, considerar que homens e mulheres amam de forma diferente. Afinal, quem ama mais e melhor?

Queixam-se as mulheres de que os homens são insensíveis, frios, racionais, não as ouvem, não as compreendem, não são confiáveis, não as valorizam, não se lembram de pormenores, não expressam o amor.

Queixam-se eles de que elas são ciumentas, possessivas, picuinhas, carentes, sentimentais, choram e reclamam sem razão.

Falo de amor e não de atração física ou sexual. Enquanto construção social, há ainda, sem dúvida, diferenças no que respeita à vivência da sexualidade. Mas, no que respeita aos afetos, será que essa diferença se mantém?

Dizem especialistas que há diferenças químicas e biológicas entre homens e mulheres. O impulso masculino primário é mais visual, remete para o sexual (os homens relacionam amor com sexo), e tem origens ancestrais, enquanto o feminino é mais auditivo, pelo que a voz, a conversa, a comunicação verbal são fundamentais para elas (as mulheres relacionam amor com romance). Os homens precisam de as impressionar com as palavras. No entanto, eles também sentem amor-afeição. Então, quando deixamos o sexo e passamos ao patamar do amor, no domínio do vínculo, da ligação, homens e mulheres serão assim tão diferentes?

A verdade é que a grande alteração de comportamentos relativamente à sexualidade e ao amor tem vindo das mulheres, o que tem obrigado os homens a reinventarem-se também para as acompanharem. A internet veio, sem dúvida, potenciar esta mudança. Quando é que até aos anos 90 veríamos homens de 60 chamarem “amor” a uma mulher, sobretudo com a facilidade e exposição com que o fazem hoje? Ou veríamos uma mulher “abrir portas” de forma tão audaz? Ressignificou-se o amor.

Pois é, no geral, os homens sempre foram os especialistas nas técnicas de sedução e de conquista, tão opostas ao papel da mulher na ideia de amor romântico. Agora, são confrontados com mulheres sexualmente emancipadas que também querem sexo como uma das componentes básicas das suas vidas e dos relacionamentos. Aparentemente, aos homens agrada-lhes o facto de terem algumas mulheres sexualmente mais acessíveis, mas desagrada-lhes que elas tenham perdido alguma doçura e não se saibam comprometer. Há mulheres que ainda sonham com homens capazes de as levar à loucura, sem garantias de amor eterno.

Mesmo assim, e tendo em conta o perigo que acarreta a generalização do que quer que seja, acredito que há grandes diferenças na forma de amar dos homens e das mulheres.

Elas precisam de atenção, de provas, de atitudes. Eles raramente percebem que não basta amar, é necessária a expressão desse amor. Talvez seja tudo uma questão de pormenores: elas necessitam deles, eles nem de tal se apercebem.

Nem sempre gostar do outro chega, mas é um erro criar falsas expectativas e querer mudar a personalidade alheia. O ideal, claro, será que homens e mulheres compreendam as idiossincrasias de cada um, para tornar possível suportar as diferenças e as faltas. Aceitar e compreender que cada um tem necessidades emocionais diversas, pelo que vive o amor de forma diferente e nem por isso ama mais ou menos. Talvez seja a isto que chamamos amor.

A necessidade de amar e ser amado é comum a ambos os sexos. O amor romântico é universal e transcultural.

Afinal, o amor vale a pena sempre.

 

PC