REFLEXÃO NO DIA INTERNACIONAL DA SAÚDE MENTAL

MANUELA JONES58

 

No dia 10 de Outubro, celebrámos o Dia Internacional da Saúde Mental. É sem dúvida uma data de grande importância que nos convida a olhar para a nossa saúde emocional e a reconhecer a luta silenciosa que muitos enfrentam no dia a dia. Hoje, escrevo estas linhas não apenas como uma reflexão, mas como um desabafo, partilhando a minha experiência como cuidadora da minha mãe (portadora de Alzheimer) que vive comigo.

Esta reflexão não é apenas sobre a dificuldade da minha situação, dos meus pensamentos profundos, mas também um apelo à compreensão de todos sobre a importância da saúde mental. É imprescindível que se quebre o estigma que cerca esta temática, pois não se trata apenas dos que sofrem de patologias claramente visíveis. Existem muitos outros, como os cuidadores, que frágeis, silenciosos, muitas vezes não são vistos. Precisamos de espaços seguros onde possamos partilhar o nosso fardo e, mais importante, onde possamos encontrar apoio. É imperativo que também os cuidadores sejam cuidados.

Cuidar de um ente querido que enfrenta esta doença é um desafio imenso. A cada dia, é doloroso ver a identidade da minha mãe a desvanecer-se lentamente, como se as memórias que outrora a definiram se dissolvessem num oceano de confusão e perda. A mulher cheia de vida, inteligente e carinhosa, aos poucos, perde a sua essência, e eu, impotente , observo tudo isso acontecer. A revolta assola-me frequentemente. Uma revolta que se transforma em tristeza e, por vezes, em gritos silenciosos contra a injustiça da vida.

Sentir-se impotente é uma experiência comum entre os cuidadores. É uma batalha constante contra algo que não podemos controlar. O amor que eu sinto por ela é profundo e genuíno. É um amor que nunca se esgota. No entanto, mesmo o amor mais forte pode trazer consigo um peso insuportável. É fácil esquecer, no meio da dedicação, que somos humanos. O esgotamento emocional é uma realidade presente na vida de muitos cuidadores dos doentes com estas patologias, incluindo a minha.

As horas que passo a cuidar, a atender a todas as necessidades e a tentar garantir que a qualidade de vida da minha mãe se mantenha, frequentemente levam-me a um lugar de solidão.
Pergunto-me, após tantos anos dedicados a ela, como ficará a minha própria saúde mental mais tarde.
Quais serão as repercussões de uma vida anulada em prol do cuidado?
O que restará de mim quando tudo isto chegar ao fim?
Depois deste anos de dedicação intensos sempre juntas, como será a minha vida sem a presença da mulher que me deu o ser?

Neste Dia 10 de Outubro dia Internacional da Saúde Mental, desejo que a sociedade olhe também para os cuidadores destes doentes com empatia e não como aqueles que decidiram parar de trabalhar fora de casa para receber um subsídio de cerca de quatrocentos euros mensais para estar disponível durante vinte e quatro horas a cuidar e a dar tudo de si. Têm direito a um mês de férias não remuneradas para descanso, mas o pedido que tem que ser feito com três meses de antecedência, e será ou não atribuído. Afinal é necessário haver vagas para que o cuidado possa ser colocado numa instituição, o cuidador pague essa estadia e muitas vezes terá que o deixar a quilómetros da sua área de residência, onde naturalmente durante esse mês de estadia, não terá a possibilidade de receber visitas o que vai ainda agravar mais o seu estado mental. Eu nunca recorri a esse pedido. Que se reconheçam as nossas lutas, as nossas batalhas e o amor que dedicamos, mesmo quando isso implica sacrificar-se. Que possamos cuidar uns dos outros, promover o diálogo e, acima de tudo, lembrar que, enquanto cuidamos daqueles que amamos, não devemos esquecer de cuidar de nós próprios.

Cuidar é um ato de amor, mas também deve incluir o auto-cuidado. A saúde mental de quem cuida é tão importante quanto a saúde física e emocional de quem é cuidado. Afinal, só podemos dar o melhor de nós se formos inteiros, saudáveis e presentes. Que possamos, juntos, construir um futuro mais solidário e humano.

Manuela Jones