SIMBINHA O GATO QUE SABIA FALAR DE AMOR
Era uma vez um gato chamado Simbinha, um verdadeiro conquistador das ruas, que vivia uma vida cheia de aventuras e paixões. Após ser adotado por um dono que o amava incondicionalmente, Simbinha encontrou um lar, mas a sua natureza indomável não podia ser contida. Era um gato sem amarras onde a liberdade era a sua maior conquista.
O entendimento entre eles era profundo, mas havia uma batalha silenciosa que se desenrolava nas noites em que o gato, com os olhos brilhantes de desejo, miava insistentemente:
- Quero ir, quero ir!
Conseguia emitir sons como os humanos que mais pareciam apelos de desespero.
As escapadas de Simbinha eram épicas, mas também repletas de perigos. O seu coração batia forte por uma gata deslumbrante chamada Estrela. Era o motivo de todas as suas aventuras e desventuras. Com o seu charme irresistível, Estrela atraía não só o amor, mas também a inveja de outros gatos da rua, resultando em rivalidades ferozes. Era uma gata siamesa de enorme olhos azuis e bigodes que faziam cócegas quando passava. Ela sabia que era bonita e provocava todos os gatos do bairro. Estrela vivia numa enorme casa com umas águas furtadas, onde o nosso Simbinha ia ao encontro do amor.
Simbinha não hesitava em defender o seu território e a sua amada, mas essas batalhas frequentemente deixavam-no ferido e arranhado, voltando para casa como um verdadeiro guerreiro. Lá ia o dono ao veterinário para cuidar das suas feridas de amor de onde saía com ligaduras e pensos a adornar o seu corpo.
Parecia um gato egípcio!
Será que o nosso felino ainda pertencia a algum dos gatos "faraónicos"?
O dono, que adora o seu gato e que é também um excelente músico, faz o possível para cuidar dele, mas as noites de convalescença de Simbinha são um verdadeiro teste à paciência. Enquanto o gato se recupera dos seus ferimentos, o dono tenta dormir, mas o miar desesperado de Simbinha ecoa pela casa, como se estivesse a convocá-lo para mais uma aventura:
- Quero ir, quero ir!
O dono, entre risos e suspiros, não consegue resistir ao apelo do seu amigo.
-Mas, Simbinha, já estás ferido! Não podemos repetir a história!
No entanto, o olhar do gato era tão persuasivo que, muitas vezes, o dono acabava por ceder.
O Lince, o gato e amigo inseparável de Simbinha, era o seu fiel escudeiro. Com um porte majestoso, verdadeiras orelhas de belo lince ibérico, ele não só protegia Simbinha dos rivais, como também se tornava o seu conselheiro nas questões do coração.
-Amigo, não vale a pena lutar por uma gata que te arranha tanto!
- Foca-te em ti! - dizia o Lince, mas Simbinha, na sua essência apaixonada, ignorava os conselhos do amigo, sempre pronto para mais uma noitada em busca do amor.
Certa noite, depois de um longo dia de recuperação, Simbinha decidiu que era hora de uma nova escapada. Com um brilho nos olhos, olhou para o dono e, com um miado melodioso, implorou:
- Por favor, deixa-me ir! Estrela está à espera!
O dono, entre risos e um leve suspiro de resignação, decidiu que não podia conter a paixão do seu amigo.
-Está bem, mas volta a casa antes do amanhecer!
E assim, Simbinha lançou-se na noite, ainda mais determinado a conquistar o coração da sua gata amada.
As aventuras de Simbinha tornaram-se cada vez mais intensas. Ele enfrentava rivais, escapava de armadilhas e, por vezes, metia-se em situações cómicas, como quando tentou impressionar Estrela ao saltar sobre um monte de lixo, mas acabou por aterrar numa poça de água, voltando para casa todo encharcado e com um ar de quem tinha acabado de sair de um banho forçado. O dono não conseguia conter as gargalhadas enquanto limpava o seu pequeno conquistador.
A cada nova escapadinha, Simbinha trazia consigo histórias de bravura e amor, e mesmo que voltasse com feridas, o amor que sentia por Estrela era tão forte que não se deixava abater.
Às vezes, parecia que, no meio do seu desespero, Simbinha lançava um convite ao dono para tocar a guitarra e acompanhá-lo nas serenatas de amor pela sua Estrela, impedindo-o de ter uma noite tranquila de sono. E assim, entre risos, arranhões e serenatas ao luar, a vida de Simbinha e do seu dono seguia, repleta de aventuras, onde o amor e a amizade se entrelaçavam, fazendo de cada dia uma nova história para contar. Afinal, a liberdade de Simbinha estava nas suas escapadas, mas o verdadeiro lar estava sempre nos braços do seu dono, neste caso na sua cama, bem enroscado. Independentemente de quantas vezes o gato decidisse sair em busca de novas aventuras, o dono sabe que “o amor é fogo que arde sem se ver”.
Manuela Jones