TEMPOS DE MUDANÇA PARA OS AZEITEIROS

MANUELA13

 

O ano de 2023 em Portugal, foi um excelente ano na produção de azeitona.
Todos sabemos que nas nossas mesas, e porque faz parte da nossa cultura, não pode faltar o azeite.

É ele que dá sabor aos nossos pratos, e tempera o nosso amigo e fiel bacalhau também tão presente.

Somos também os maiores consumidores de peixe e bacalhau na Europa e este produto nunca pode faltar.
Entre outros pratos naturalmente, o que faz deste precioso líquido um elemento e alimento essencial na mesa dos portugueses.

Foi também ele, em tempos remotos, que queimava nas lamparinas que davam luz às casas onde nem se sabia o que era a eletricidade.

Como devem imaginar , todos nós sentimos nos nossos bolsos, que o preço do azeite tem sido inflacionado em Portugal, juntamente com outros produtos alimentares, o que torna insuportável a sobrevivência de lares que vivem com um salário mínimo e não só.

Primeiro houve a nível europeu, uma conspiração com o óleo alimentar. De repente, desaparecia das prateleiras e o preço elevadíssimo. Eu também testemunhei isso em França e Espanha.

O azeite, no ano passado, comprei-o no lagar a cinco euros por litro.
Eu sei também que este produto até ser transformado e chegar aos nossos pratos, dá imenso trabalho, despesa e sacrifício. Os meu pais, antigamente, tinham azeite para todo o ano. O pessoal vizinho e das outras quintas, davam os chamados, dias por dias. Ou à jeira.

Eles vinham ajudar na nossa apanha, e nós íamos ajudar na deles. Tão simples e onde reinava a boa disposição. Eu ainda me recordo quando a azeitona se apanhava nos meses frios de Dezembro e Janeiro. As mulheres levavam os filhos embrulhados em cobertores, e como muitos deles, eu ficava assim embrulhada dentro de uma cesta de verga, onde se fazia uma pequena fogueira ao lado, para nos manter mais quentes.

Aquelas mulheres e homens varejavam, limpavam as oliveiras e escolhiam as azeitonas que caíam em cima de enormes panais feitos num tecido de serapilheira. Os dedos, ficavam doridos e gelados pelo frio e o pingo caía do nariz com permanência. Era duro e o tempo naquela época era frio.
Com as mudanças climáticas, hoje em dia, a azeitona amadurece em Outubro e em Novembro está praticamente apanhada.

Tudo hoje é mecanizado, o que facilita bastante este trabalho.

No meu tempo de menina, era levada aos lagares com carroças puxadas por bois, ou o burrito. Os homens provavam o azeite novo num prato com um pedaço de broa ou pão. Quantas carroças eu via carregadas para o lagar que havia em frente à minha escola nas Almas de Freire, em Santa Clara. Tudo prensado a frio. Nesse terreno, do antigo lagar, hoje é o Lidl que construiu o supermercado, que nos vende hoje o azeite a preços inabordáveis. Este ano, preciso comprar novamente azeite para consumo do lar, porque as minhas oliveiras, não tratadas, com toda a poluição que recebo da cidade, deixaram de produzir azeitonas de qualidade. Também já não há ninguém que queira vir fazer dias em troca de azeite.

Eu gosto da partilha, mas não posso fazer tudo sozinha. Fiz a proposta aos vizinhos, de apanharmos a azeitona que ainda valia a pena e dividirmos tudo em partes iguais. Ninguém quis. Ou porque têm dores nas costas e vertigens para subir às oliveiras, que nem dois metros têm de altura, ou porque não gostam do azeite caseiro.

Atenção, as oliveiras que tenho na quinta são jovens e de fácil apanha , porque as antigas, arderam há alguns anos num incêndio.
Este ano, tinha feito então uma nova encomenda ao lagar onde simpaticamente, um dos nossos amigos vai traz-mo pela boa qualidade e paladar. Qual não foi o seu espanto, quando lhe pediram a nove e a dez euros o litro. Eu chamo isto uma conspiração. Bastou dizer se na comunicação social que em Espanha este ano não havia grande produção, para que os " azeiteiros" deste país combinassem todos vender a este preço a nível nacional.

Mesmo nos lagares das pequenas aldeias. Eu fui abordar o preço, na zona das serras de Sicó, zona preveligiada para a produção de azeite, mel, nozes e queijo, e pediram - me a mesma quantia. Mesma os candongueiros que vendem gato por lebre, já pedem trinta e cinco euros por garrafão. Vais estrelar um simples ovo e o" dito" azeite que te venderam fica azul quando levado a elevadas temperaturas.

E atenção, hoje já há máquinas para tudo. Até para varejar. Quem se dedica a esta atividade, está bem preparado. Eu se quero fazer 10 litros de azeite, tenho que apanhar 150 kg de azeitona, pagar a um homem cem euros ao dia e entregar uma maquia para pagamento ao lagar.

O Natal está aí à porta, não sei se conseguimos comer o bacalhau ou não, mas se ele chegar às nossas mesas, o azeite vai ser racionado. Nada de alambuzar o prato com este líquido a preço de ouro.

Compramos óleo, porque agora as nossas prateleiras nos supermercados estão cheias e a preços normais. Já o azeite nacional, talvez vá regar a mesa dos espanhóis.

Meus amigos, os tempos são de mudança. Vamos fazer sushi de bacalhau, cavala e sardinha para o natal, e esqueçamos o azeite nacional.

Eu como não como sushi, como umas batatas assadas a murro, e dou- lhe forte para me "destilar" esta revolta.

 

Manuela Jones