TESTEMUNHO DE QUEM FICOU INTERNADA NOS HUC
Nunca pensei que, em Portugal, a saúde chegasse a este ponto.
Ultimamente tive que estar internada no Hospital Universitário de Coimbra (HUC) e deparei-me com algumas questões que não imaginava que pudessem acontecer, ainda para mais num Hospital que deveria ser referência. Pois encontrei falta de material de saúde básico.
Estou a falar de material mesmo básico, já nem falo nessas faltas nos Centros de Saúde, o que me deixou estupefacta! Devo ter mais material médico, desse básico, em casa do que eles. Como é possível?
Por exemplo: vi com os meus olhos a falta de garrotes (usando em substituição, luvas de látex para amarrar); falta de adesivos próprios, colocaram-me um, que para o tirar, julguei que a pele ia agarrada a ele. Do pior! Um adesivo para cavalos ou para prender turbos!
Também presenciei a falta de sacos para a urina dos doentes acamados e sem roupa de cama suficiente. Como é isto possível?
Como querem que os profissionais de saúde andem satisfeitos?
Soube, por funcionários internos, que um hotel em Coimbra, renovou a roupa de cama e deu o substituído ao Hospital. Onde está essa roupa de cama? Pois parece que ninguém, dos funcionários, sabia.
Não têm o logótipo do Hospital, paciência. É preferível roupa de cama do que nos embrulharem em imagem. Ainda por cima “imagem falsa”!
Quando há carência, qualquer lençol lavado é de agradecer.
Também escrevi no facebook o excelente trabalho, dedicação e humanidade de enfermeiros. Mas parece que falei antes de tempo.
Pois também há alguns (felizmente poucos) que Deus nos livre. Felizmente são poucos os maus, se essa percentagem fosse igual nos eleitos políticos estávamos todos muito melhor.
Ainda assim tenho que relatar que a enfermeira que me recebeu, quando fui internada, foi de uma antipatia incrível. A sensação que tive, deve ser idêntica aos que vão para a cadeia, senti-me tratada com desprezo e indiferença. Não é tratamento adequado a quem está numa situação de fragilidade, como estava quando entrei no internamento.
Durante dias, apareceram outras enfermeiras/enfermeiros que fizeram mudar a minha opinião. Gente muito simpática e cuidadosa. Nem necessita de muito tempo e muitas palavras. Na maior parte das vezes um sorriso e uns segundos de atenção bastam. Compreendo bem que também há muitos doentes que não têm paciência e também os há que são mal educados com os profissionais de saúde. Compreendo e também testemunhei isso, mas por isso é que uns são profissionais e outros pacientes.
Bom, mais tarde, eis que apanho de novo a primeira. Meu Deus! A senhora que estava na cama ao lado da minha, quando a viu ficou a tremer. Já nem me lembrava da cara dela, mas depois foi a minha companheira de quarto que me lembrou que era a que me tinha recebido.
Essa enfermeira, que não ajuda a imagem dos profissionais, também foi extremamente antipática com os meus filhos, quando me foram visitar. Quando tive alta ela estava a entrar ao serviço e, surpresa das surpresas, transformou-se por artes de despedida em “mulher-simpatia”.
Mas isso comigo isso não pega! Dispenso simpatias à saída! E foi isso que lhe disse na minha saida do hospital.
Quanto aos profissionais auxiliares, seria bom alguns desses trabalhadores receberem formação para saberem lidar melhor com os doentes. Não basta terem formação técnica, é importante que tenham educação.
Foi o meu primeiro internamento, os internamentos na maternidade para ter os meus filhos não contam, foram por um motivo muito menos dependente dos profissionais de saúde.
Desta vez a minha dependência era mesmo como doente e digo, que fiquei com pavor a internamentos. Se sempre fui um bocado " baldas" com a minha saúde, a partir de agora, não sei não! Vou mesmo ter mais cuidado só para não depender deste sistema de saúde que, na minha opinião, está cada vez pior.
Ainda assim tive muita sorte! A maioria dos profissionais foram muito bons. Bem hajam. No entanto tenho que, também, destacar uma enfermeira espetacular que sempre foi muito cuidadosa comigo e com as outras doentes, percebendo as nossas necessidades e ajudando a que pudéssemos entender o nosso estado e os cuidados.
Destaco, também, dois médicos incríveis, pela atenção e cuidado em explicar os tratamentos com uma enorme simpatiaa, provando que a saúde em Portugal apenas é suportada por uma maioria de excelentes profissionais de saúde.
Mesmo com os incidentes com a enfermeira mal formada e com alguns auxiliares, algumas sem formação básica de educação, a minha opinião é que há muita falta de material básico de saúde, o que é de lamentar MUITO! E que se o serviço nacional de saúde ainda funciona é porque temos excelência profissional dos profissionais de saúde - na sua maioria.
O cuidado que os governos deveriam ter com esta gente é pouco.
Rosário Portugal