UM JUIZ LEVE NO DIZER E CÂNDIDO NA POSTURA

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Seguir o Juiz do caso das “Dívidas Ocultas”, de Moçambique, dispõe bem.

Efigénio José Baptista tem, no seu dizer, ou seja, na sua palavra, quando fala na tenda do Tribunal que foi montada, para o efeito, na cadeia da Machava, uma leveza que cativa quem o ouve. Calmo, sereno e sem levantar a voz, aliás, como lhe compete, tem sido um baluarte e um símbolo do rigor que deve ilustrar e lustrar uma figura da sua envergadura, a qual representa um dos órgãos de soberania da Nação, a Justiça.

De seu nome Efigénio José Baptista, mostra um outro lado da sua personalidade, porque, e também quando fala, usa expressões e apresenta-se como cândido. Mostra pureza no articulado…das frases, do que expõe e do que opina. Parece – aqui para nós que ele não nos ouve ou vai ler – um bom rapaz.

É evidente que, e num País em que um partido, o do poder, a frelimo, é senhora e rainha dos poderes, de todos eles, esse Juiz está exposto a muitas influências. O escrutínio público que recai sobre ele é enorme, surgindo como um fardo. Efigénio sabe disso. E preparou-se para isso. Percebo isso, pelo que já explanei… por se manter distante, por exigir, por falar calmamente e de forma clara. Por repreender, mesmo que se trate do filho do ex-PR Guebuza, como já o fez, diversas vezes.

A postura desse arguido retrata a desfaçatez e a má criação que o determina, como pessoa...nunca como Cidadão, o que não é.

Uma procuradora do MP pergunta-lhe o que recebeu, para além de vinhos, numa encomenda. A resposta foi servida torta pelo filho da tal figura de topo da frelimo e de Moçambique: ”Mas a sra. quer vinho?”

Atalhou o Juiz Efigénio, num tom sereno e pedagógico…sem mostrar qualquer exaltação: “o sr. não tem respeito e não volta a fazer isso, o sr. que foi educado numa família… e em escolas de classe”. Estava dado o recado.

Mas Armando Ndambi Guebuza, o mesmo filho “velho” de Guebuza, também Armando, como o pai, já havia brindado o MP com graves acusações: “mentirosos” e de os certificar de que o perseguem politicamente.

Interessante registar que este mesmo rapazola, mimado, “fustiga-se”/pulveriza-se com desinfectante, a espaços, o que levou o Juiz Efigénio, um homem de fino recorte humorista e figura patusca, a deixar cair, como exclamação, em tom baixinho:”o sr., com tanto desinfectante, ainda se mata…”.

Efigénio J. Baptista, pela sua postura dentro do Tribunal e não só – mesmo cá fora – por onde passa, é reconhecido e é ovacionado, está nas boas graças do povo, o genuíno.

Portanto, ele sabe que a opinião pública nacional e internacional vai estar de olho nele. Permita Deus que se mantenha cândido, calmo, com um discurso leve e que saiba exercer a justiça sem olhar a que os arguidos são “gente grande”, ou seja, peixe graúdo, porque a justiça deve ser igual para todos. Nunca fraca para os fortes e forte para os fracos… Nunca de jeitos para os poderosos, culminando em sentenças com “pena suspensa”; e com a espada, para os pobres, com o efectivo cumprimento de prisão.

António Barreiros