UM MENPHIS COMO EU!

MANUELA JONES1

 

No dia em que escrevo este artigo de opinião, marca o calendário o dia 4 de Outubro, celebrando o dia mundial dos animais, daqueles que gostamos de estimar.

Não podia deixar de abordar um pouco sobre este assunto, já que eu sou uma apaixonada pelos bichos. Nomeadamente os que são abandonados e eu fui recolhendo ao longo de todos estes anos. E comecei muito cedo.

O meu primeiro cão, chamava se Mondego, e foi me oferecido quando eu tinha um ano de vida. Vivemos muitas aventuras durante 8 anos.

Mas antes de abordar a minha história, vou falar-vos um pouco de um livro que li aqui há uns anos e que se identifica muito comigo em algumas situações.

“Cão como nós" é um livro escrito pelo poeta português Manuel Alegre, publicado em 1982. A obra narra a história do cão do autor, que recebeu o nome de Mira, e a relação especial que existiu entre os dois.

Ao longo das páginas, Manuel Alegre descreve as aventuras que viveu ao lado de Mira, compartilhando momentos de afeto, lealdade e compreensão. O livro retrata o vínculo genuíno que se forma entre um ser humano e um animal de estimação.

Através dessa relação, Manuel Alegre também aborda questões mais amplas, como a solidão, a dificuldade de comunicação entre as pessoas e a importância dos laços afetivos na vida de um indivíduo.

"Cão como nós" é uma obra emocionante e delicada, que mostra a capacidade dos animais de nos ensinar a amar e valorizar as pequenas coisas da vida.
Também eu ao longo dos anos tenho vivido intensamente essa experiência.
Que me conhece, sabe a relação que que tenho com os meus animais.

Não sou fã de raças nem adepta da compra dos mesmos. Os meus animais ao longo dos tempos nunca tiveram raças definidas.
São a raça do ‘companheirismo e da amizade pura’. Ultimamente, ao longo destes últimos nove anos, tenho como "cãopanheiro" o meu amigo Memphis.

O Memphis é um cão muito especial. Não fui eu que o adotei, pois quando o conheci ele já tinha dono. Mas fui eu a adotada.

Era um jovem cão de nacionalidade francesa com cerca de um ano, quando o conheci. Não usava perfume, nem marcas dos melhores costureiros. Tinha, e ainda tem, uma pelagem dourada e macia e um olhar tão doce e protetor que ninguém lhe resiste.

Ora cheguei eu a terras de França como milhares de outros portugueses para trabalhar e recomeçar novos desafios. Eu gosto de desafios.

O Memphis que até nem era" rapagão" para grandes amizades, veio receber-me ao portão da casa onde fiquei alojada na altura. Acho que ele sabia os sentimentos, as tristezas, as incertezas que me acompanhavam naquela altura em que entrei aquele portão com malas cheias de vazios.

Veio receber- me, não me intimidou e lambuzou- me toda, como quem diz:
- Não tenhas receio que eu estou aqui para te proteger e acarinhar e nesta casa há gente boa. Não estarás sozinha!

E estivemos juntos em França durante três anos. Foi construído um vínculo muito forte e inquebrável.
Quando regressei a Portugal três anos mais tarde, não me foi possível trazê-lo.
Sete meses mais depois , regressei e fui busca-lo.

Hoje, quem me vê andar por Coimbra ou quando estou na Figueira, todos conhecem o Memphis porque me acompanha sempre nos nossos passeios e caminhadas à beira mar. Está velhote e doente, eu sei.

Eu também estou a envelhecer como ele.
Tudo faço para lhe prolongar a vida. Será só amor?
Estarei a ser egoísta?
Talvez não, só quero que viva com a dignidade que merece.

Já eu, tal como disse o poeta Manuel Alegre, o Memphis é um cão como eu.
É família e nunca me abandonou nos momentos mais difíceis. Agora é a minha vez de o apoiar.
É com carinho que lhe dedico este humilde texto que nunca compensará tudo o que fez por mim.

Do final, do livro da nossa história, ainda não quero pensar, só quero prestar- lhe uma pequena homenagem neste dia em que se celebra o dia mundial dos animais e de S. Francisco de Assis.

Obrigada Memphis!

Manuela Jones