UMA JUVENTUDE CHEIA DE SONHOS PRIMEIRO CAPÍTULO

MANUELA JONES44

 

Depois de ter escrito a história de vida do Sr. Manuel que emigrou para França nos anos sessenta com sua família numerosa e os desafios que enfrentou, hoje vou dar continuidade ao mesmo tema numa década diferente, e num regime político também diferente. Todos sabem que o nosso país sempre foi uma nação com muita história, um povo pioneiro nas navegações e conquistas marítimas, sem medo de enfrentar o desconhecido. Vou aqui ter que fazer alguns parágrafos antes de iniciar e dar continuidade ao tema que me traz mais uma vez aqui. Talvez seja uma forma de vocês compreenderem como se iniciou a minha história e as minhas aventuras por terras helvéticas.

Na década de 1980, Portugal enfrentava desafios económicos significativos, com altas taxas de desemprego, inflação elevada e uma economia em crise. A ditadura salazarista, seguida de uma revolução em 1974, deixou o país num estado de transição e instabilidade política e económica. A juventude portuguesa da época, incluindo eu, provavelmente sentimos o peso dessas circunstâncias, com oportunidades limitadas e perspectivas incertas para o futuro.

A emigração era uma realidade para muitos portugueses que procuravam melhores oportunidades económicas e uma qualidade de vida mais estável no estrangeiro. Até porque depois de 1974, nós recebemos muitos portugueses que vieram das ex colónias, que tiveram que se integrar e adaptar a um país que não estava minimamente preparado para receber tanta gente.

Lembro- me de algumas revoltas populares. Dos que achavam que os retornados vinham roubar o dinheiro e o ouro dos cofres do estado, os melhores empregos e a ocupação das casas. Que as mulheres retornadas eram umas vadias porque fumavam, usavam biquínis e minissaias e os mais jovens tinham trazido a desgraça da droga para Portugal. Era tudo muito estranho e havia mesmo muita maldade misturada. Depois há o inverso da medalha que é também essa generosidade do nosso povo em caso de necessidade do seu semelhante. Talvez haja a influência das nossas ligações profundas ao culto da religião e o medo de entrar em pecado e ofender Deus e os santos.

Tínhamos saído há pouco de uma ditadura e nem sabíamos o verdadeiro sentido da palavra liberdade.Eu comparo está época muitas vezes ao que acontece quando soltamos das correntes ou de uma jaula algo ou alguém que esteve encerrado e nunca conheceu a liberdade. Ser livre também não é fazer tudo o que nos passa pela cabeça.

Isso é loucura ou irresponsabilidade .
Há regras que têm que ser respeitadas para se poder construir uma sociedade bem estruturada. Voava, voava uma gaivota na boca deste povo, mas com uma das asas cortadas.
A década de oitenta em Portugal foi marcada por grandes mudanças sociais e culturais. A juventude portuguesa, influenciada pela revolução dos cravos de 1974, procurava novas formas de expressão e liberdade.

As ambições dos jovens eram diversas, desde a ambição por uma carreira profissional de sucesso até à luta por causas sociais e políticas.

A música desempenhou um papel fundamental nesse período, com o surgimento de bandas e artistas que marcaram a cena musical portuguesa. O rock e o punk ganharam espaço, refletindo o espírito contestador e rebelde da juventude da época. Bandas como Xutos e Pontapés e Heróis do Mar, o Xico Fininho do Rui Veloso, Lena D Água e outros mais , tornaram- se ícones da música portuguesa dos anos oitenta.

No entanto, nem tudo eram flores nesse período. A epidemia de SIDA, que começou a espalhar- se pelo mundo e também chegou a Portugal. A falta de informação e prevenção levou a um aumento alarmante de casos da doença, especialmente entre os jovens e menos jovens. Tinha também disparado a liberdade sexual. A sociedade portuguesa precisou lidar com o estigma e o medo em relação à SIDA, o que gerou debates e mobilizações em busca de soluções para o problema cá e a nível mundial.

Apesar dos desafios e das incertezas, a década de oitenta em Portugal foi um período de transformação e crescimento. A juventude portuguesa mostrou a sua capacidade de se adaptar e resistir diante das adversidades, na procura constante de novas formas de expressão e liberdade. A música e a cultura foram instrumentos de resistência e união, enquanto a epidemia de SIDA trouxe à tona a importância da informação e da solidariedade.

Na próxima semana darei continuidade ao tema sobre a emigração, a sociedade portuguesa dos anos oitenta e a minha própria história por terras helvéticas.


Manuela Jones