XENOFOBIA EM PORTUGAL - UM ALERTA!
Num mundo cada vez mais globalizado, a mobilidade humana é uma realidade constante. Muitas pessoas, impulsionadas pela esperança de melhores condições de vida, abandonam as suas terras natais. É o caso de Pedro e da sua esposa, que decidiram deixar o Brasil, um lar repleto de desafios, em busca de um futuro mais promissor em Portugal. A história deles reflete o exemplo de milhares de emigrantes que, como eles, procuram uma nova vida.
Ao chegarem a Portugal, Pedro e a esposa foram acolhidos por familiares que lhes haviam prometido um futuro brilhante. Contudo, após uma semana de estadia, perceberam que as promessas não se concretizariam. Foram convidados a procurar um quarto para alugar e acabaram numa casa velha, infestada de humidade, partilhada com mais dez pessoas de diversas nacionalidades. O valor de quatrocentos euros por mês tornou-se um símbolo da precariedade em que viviam.
Apesar das dificuldades, Pedro e a esposa conseguiram emprego. Pedro tem dupla nacionalidade uma vez que é filho e neto de portugueses. Contudo, o ambiente laboral revelou-se um desafio ainda maior. A exploração, humilhação e a desumanização tornaram-se comuns, transformando o trabalho numa experiência desgastante. Pedro, um trabalhador honesto, viu a sua dignidade ser atacada.
Numa tarde, enquanto conversávamos, notei a tristeza profunda que o consumia.
— Porque estás triste? Perguntei, preocupada.
Ele suspirou, a voz embargada.
— Sabe, senhora, sempre fiz bem o meu trabalho, mas hoje o mundo desabou sobre mim.
— O que é que aconteceu? — incentivei-o a desabafar.
— Um cliente foi-me enviado para tratar do seu processo. Fiz tudo direitinho, mas quando ele me ouviu falar, disse: “Ó pá, mais uma merda de um brasileiro. Vai-te foder. Não quero ser atendido por um estrangeiro.”
Aquelas palavras cortaram-me como uma faca. A xenofobia, um mal enraizado em muitas sociedades, estava ali, à vista, revelando a intolerância que muitos emigrantes enfrentam diariamente.
— Isso não é verdade, Pedro!
Tentei consolá-lo. — Somos um país acolhedor com uma forte tradição em emigração. Há portugueses por todo o lado do mundo, sempre soubemos receber. Não podes deixar que palavras assim te afetem tanto.
— Mas como?
Ele retorquiu, a frustração transparecendo na sua voz.
— Vim cheio de esperança, deixei o meu filho no Brasil e agora sou tratado como lixo.
Como é que eu posso deixar que meu filho venha um dia e seja também tratado desta forma?
A sua dor era palpável.
No meio desta conversa, lembrei-me da dura realidade em que viviam: a casa onde estavam o espaço partilhado, onde cada um lutava pela sua sobrevivência. O quarto, húmido e malcheiroso, era apenas um dos muitos que estavam alugados naquela casa deteriorada. A convivência com tantos outros, todos em situações igualmente difíceis, tornava a vida ainda mais desafiadora. Mas o Pedro, falava português, estava integrado e respeitava a sociedade e a nossa cultura. Não o podiam acusar do contrário.
A minha própria experiência como emigrante também veio à tona, embora eu nunca tivesse vivido este tipo de experiência. No entanto, quando regressava de férias com amigos oriundos dos países que me acolheram, naturalmente falávamos a língua desses países, pois os meus amigos não dominavam o português. Nesses momentos, éramos rotulados de "franceses de Alcochete" ou "portugueses de segunda classe" e por aí fora pois a lista seria extensa. Essa falta de compreensão da realidade dos emigrantes e a facilidade com que se erguem estigmas e rótulos apenas reforça o quão profundamente enraizada está a xenofobia. A começar por alguns partidos políticos que destilam o ódio em vez de tentar encontrar soluções para os problemas que afetam a nossa sociedade. As pessoas não conseguem alcançar as realidades que moldam a vida dos que procuram uma nova oportunidade.
— Pedro, eu sei que é complicado. Mas pensa em tudo o que já conquistaram.
Falam português, inglês e espanhol. Estão a trabalhar e a construir uma nova vida.
— Mas somos vistos como “estrangeiros”, “ciganos” e “refugiados”, a tal cambada de filhos da pu** Com que somos rotulados. retorquiu ele, a voz embargada.
- As minhas raízes estão aqui. Eu também sou português, pago os meus impostos e não violo a lei.
A injustiça que Pedro enfrentava era um reflexo de uma cultura que, muitas vezes, ergue barreiras em vez de pontes. A xenofobia não é apenas um problema de atitudes individuais, mas uma questão social que requer atenção e ação.
A história de Pedro e de tantos outros deve servir como um alerta. É fundamental que a sociedade portuguesa e as instituições reflitam sobre como estão a acolher aqueles que buscam uma nova vida. O debate sobre xenofobia e integração deve ser prioridade, pois garantir a dignidade dos imigrantes fortalece a coesão social.
Este fenómeno é frequentemente alimentado pela desinformação e pela falta de compreensão. Portanto, é essencial promover o diálogo intercultural e a educação sobre as realidades da emigração. As histórias de vida, como a de Pedro, merecem ser ouvidas e valorizadas. Cada pessoa que chega a Portugal traz consigo experiências, sonhos e esperanças que enriquecem a sociedade civil.
Assim, em vez de rotular os imigrantes como "estrangeiros", "ciganos" ou "refugiados", é vital lembrar que, no fundo, somos todos seres humanos à procura de uma vida melhor. A tolerância e a empatia devem ser as bases sobre as quais construímos as nossas sociedades. O futuro de Portugal, assim como o de qualquer nação, depende da capacidade de abraçar a diversidade e reconhecer a humanidade em cada indivíduo.
A história de Pedro e da sua esposa é uma chamada de atenção à reflexão e à ação. Que possamos trabalhar juntos para erradicar a xenofobia e construir um mundo onde todos possam sentir-se em casa, independentemente da sua origem. O verdadeiro progresso está na capacidade de acolher e integrar, de celebrar as diferenças e de reconhecer que, juntos, somos mais fortes. É tempo de transformar a dor em esperança e a intolerância em respeito.
Força a todos os Pedros , Filipes, Mairas, Gabrielles, Marias, Josés por cá e por esse mundo fora.
M. Jones