A DIFICIL SOBREVIVÊNCIA NA GUINÉ
Cabomba era uma tabanca estrategicamente situada num entroncamento de picadas que ligavam Galomaro e Bangacia a Cancolim. O Paulo Raposo que antes tinha estado destacado em Campata, foi deslocado com o seu pelotão para este novo local.
Há mais de quinze dias que as chuvas tropicais intensas não paravam de varrer a zona, tornando intransitáveis os caminhos, impossibilitando o reabastecimento de viveres armazenados em Bafatá e Galomaro.
As reservas alimentares estavam na penúria e havia trinta soldados para alimentar.
O Raposo, sensível a garantir o mínimo de bem estar possível aos militares sob a sua responsabilidade, vivia a cada dia uma preocupação maior.
Certa manhã, ciente de que tinha de encontrar uma solução de emergência, depois de em dias anteriores ter tentado sem sucesso vencer o lamaçal da picada para Galomaro, decidiu dirigir-se a uma pequena tabanca das imediações, montado num pequeno Unimog juntamente com meia dúzia de soldados.
Lá chegado, falou com o Chefe de Tabanca que sabia possuir algumas vacas.
Propôs-lhe que lhe vendesse uma delas, mas o homem recusava terminantemente desfazer-se de qualquer uma das suas vacas, que, aliás eram um sinal de riqueza do proprietário e que dela, teimosamente, não abdicava.
O Raposo insistiu, oferecendo-lhe um valor justo pela compra.
Mas o Chefe de Tabanca estava irredutível. Não era uma questão de preço. Simplesmente, não a queria vender.
Já impaciente, o Raposo invocou a sua autoridade militar e a necessidade absoluta de levar a vaca.
Pegou num punhado de notas e, como o homem não as quisesse receber, atirou-lhas aos pés e mandou atar a vaca ao Unimog com uma corda.
Arrancou em direcção a Cabomba, em marcha lenta, com a vaca a trotar atrelada pela corda.
Chegado ao destacamento, desmontou e caminhou em direcção ao abrigo quando um soldado o abordou:
- Ó meu alferes, então e agora? Como fazemos para abater a vaca?
O Raposo, irritado com toda aquela complicada negociação, virou-se para trás, pegou na metralhadora e disparou dois tiros, matando a malfadada vaca.
Encarou o soldado e vociferou:
- A vaca está morta. Vê lá se também queres que a esfole!
Rui Felicio