“ABRE O COFRE OU MATAMOS-TE A TUA MULHER E OS TEUS FILHOS...”

2 ABRE O COFRE OU MATAMOS1

 

No seguimento do pedido de voto de pesar entregues na Assembleia da República pela morte de Camilo Mortágua, onde o PCP não subscreveu mas votou a favor.

Esta proposta da Esquerda seria para homenagear o revolucionário antifascista que no meio da sua luta chegou a assaltar a Delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz ameaçando os funcionários do banco e dos clientes com esta frase: «Abre o cofre ou matamos-te a tua mulher e os teus filhos que temos ali num automóvel.»

Segundo o Jornal de Notícias, que relatou a reportagem do assalto, onde os assaltantes, de que fez parte Camilo Mortágua (pai de Mariana Mortágua e Joana Mortágua do Bloco de Esquerda), roubaram depois do assalto uma avioneta de Cernache, Coimbra, e segundo palavras do artigo do JN: «O bando surgira de repente no aeródromo e e com as mesmas ameaças e armas de fogo obrigara o guarda a abastecer o depósito de uma aeronave "Auster", de quatro lugares».

Faltavam cinco minutos para as 16 horas do dia 17 de Maio de 1967, quando quatro homens - Camilo Mortágua, Hermínio da Palma Inácio, António Barracosa e Luís Benvindo - surpreenderam o país assaltando a filial do Banco de Portugal na Figueira da Foz.

Roubaram, com as correções devidas (segundo o INE), o equivalente a 15 milhões de euros, mas apenas puderam utilizar cerca de 4 milhões de euros, pois a maior parte das notas ainda não haviam entrado em circulação e foram anuladas pelo banco.

Considerou-se que este assalto à filial do Banco de Portugal era para financiar as ações de guerrilha contra o Estado Novo. O que equivaleria a 4 milhões de euros para financiar as lutas antifascistas.

Dizia o artigo do JN da época: «(...) que os assaltantes actuando com perfeita sincronização, não haviam descurado um só pormenor, apresentando-se armados de pistolas metralhadoras e nestas adaptado tubos silenciadores»

Os assaltantes fizeram 16 reféns, entre funcionários e clientes. Descreve o JN que o "chefe" do grupo, "de cerca de 40 anos, com bigode e usando chapéu preto e e casaco de xadrez" ameaçou então, num "português caro, embora abrasileirado", o chefe de serviço, José Castanheira: "Abre o cofre ou matamos-te a tua mulher e os teus filhos que temos ali num automóvel".

A ameaça aos funcionários da filial do Banco de Portugal, da Figueira da Foz, as armas usadas e a violência permitiu que hoje as filhas Mariana e Joana Mortágua, possam dizer que neste assalto não foi disparado uma única bala. A violência nas ameaças foi eficaz e talvez necessária a quem pretendia combater a prepotência e violência do Salazarismo.

Já com o dinheiro em dois sacos, fecharam toda a gente num gabinete e fugiram num Taunus 17M. "Muita gente o viu e não estranhou a sua presença. Tanto que também ninguém deu pela sua partida com os assaltantes lá dentro".

O seu destino era o "campo de aviação de Cernache, onde tem a sua sede a secção de Aeronáutica da Associação Académica" palco de "um outro drama", pois havia sido roubada uma avioneta.

A avioneta levantou, depois, voo em direção a Sul, e «foi encontrada no Algarve, entre Sagres e Lagos". "Aterrara na Herdade do Vale do Paço, pertencente aos srs. Francisco Pinheiro e Vilareu Pinto Resende».

FG