DEIXA SÓ PEGADAS...

PQ1

 

Quem chega à Praia da Tocha, depara-se com um slogan de cariz ambiental espalhado um pouco por todo o lado, que visa sensibilizar quantos a visitam e quantos, no dia-a-dia, colaboram num esforço comum capaz de preservar a natureza.


Um exemplo bem patente é o trabalho desenvolvido pela Catraia, associação de jovens que aqui nasceu vai para seis anos, cujos objectivos prioritários assentam na defesa do ambiente, num intercâmbio actualmente mantido com a Associação de Moradores e com as entidades autárquicas.


“Deixa só pegadas, leva só memórias”, tal é a mensagem que consta do dito slogan. Interessante e bem-sucedido, ele está reproduzido numa pintura mural que, desde 2021, se encontra numa parede junto à rotunda da capela. O seu autor assina-se Stashkee e a sua intervenção integrou-se numa acção promovida por aqueles jovens. Não é um ir à catraia como ontem acontecia e está registado mas, agora, um ir à catraia tendo como objectivo a limpeza do areal, para que nele fiquem só pegadas. Nobre missão esta, em contraste com atitudes de tantos outros que por aqui se vão instalando, como é o caso de certas empresas de telecomunicações, que têm vindo a utilizar os espaços públicos, colocando a granel, postes e mais postes que aparecem identificados com o nome da Altice. Bem visível é também o número indescritível de equipamento acoplado a cada um, desde tubos, degraus em ferro por eles acima, “caixas” de vários tipos e rolos sobrantes de fio no topo dos mesmos, onde, na situação específica que a imagem mostra, nem sequer falta uma espia de suporte em aço, saída do cimo e a engatar num puxador cravado no passeio, sem sequer ter sido acautelada a segurança dos transeuntes por quem lá a colocou! Mesmo em frente, encontra-se ainda um “armário com acesso controlado”, da Telecom, onde se publicita que “esta zona tem fibra” e se referenciam contactos comerciais.


O exemplo que aqui trago é uma gota de água neste “oceano” que é a Gândara, conforme pode constatar quem nela se movimenta, e repara nos quilómetros e quilómetros de fios pretos de fibra óptica - uns esticados, muitos caídos, alguns descarnados devido aos roubos, outros bambos - que se cruzam e voltam a cruzar, em altura, por de cima das estradas, dos caminhos e dos demais acessos que levam às nossas terras, em postes colocados nas bermas, nos passeios, nos jardins e relvados, nas valetas, encostados aos muros, às casas, aos beirais, enfim, por onde calha!


Defendo que uma das formas de podermos intervir na defesa do ambiente e na salvaguarda do nosso património, parte de uma prerrogativa que nos assiste chamada denúncia, perante situações indecorosas como estas que tal não respeitam. É por isso que vemos hoje a Gândara serpenteada de preto! E interrogo-me como é possível existir “neste chão tão jardinzinho” estes dois comportamentos tão opostos: de um lado, o apelo e as acções conducentes a que aqui se deixem só pegadas e se levem memórias. Do outro, a insensibilidade destoutra gente, para quem tudo indica nada dizerem aqueles valores. Quais donos disto tudo!

António Castelo Branco