PASSOU DE MODA ...

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Isto vai por revoadas. A opinião pública cumpre obedientemente a agenda mediática. São os jornais e as televisões que nos vão dizendo o quê e quem nós devemos amar ou odiar. "Agora está na hora de odiar o Qatar" - e nós odiamos o Qatar com todas as nossas forças ; " chegou o momento de odiar os padres pedófilos" - e nós detestaremos com hora marcada os padres pedófilos ; " atenção que ' o que está a dar' é o tema do Ronaldo e do Manchester United - e o rebanho trata de atentar no Ronaldo, na Georgina e no Manchester United.

O mais cómico de tudo isto vem no depois, no momento seguinte. Em certo momento existe uma espécie de regulação invisível do "mercado da opinião", muito semelhante à mão económica invisível do Adam Smith. Chegou a hora de silenciar. E todos ou quase todos se calam.

Serão os Valores eternos? É cada vez mais duvidoso. As centrais da opinião promovem o que querem, como querem e quando querem. O exemplo dos crimes de guerra na Ucrânia é, a este propósito, paradigmático. Por lá, mata-se a torto e a direito, por dá cá aquela palha. Mas é assunto banal. Parece até existir uma espécie de repulsa colectiva em falar no caso. De vez em quando lá aparecem umas vozes isoladas a clamar no deserto infinito do desinteresse público. Verificamos então que falta aqui o combustível essencial: as parangonas do "Correio da Manhã", a emocionalidade do "pivot" televisivo, a vibração dos discursos convenientes dos Senhores Deputados, etc.

O Qatar irá passar de moda, no dia seguinte ao último jogo deste campeonato em disputa.

Outro exemplo. Durante um tempo, o Beijamisso colocou na agenda deste mediatismo basbaque o caso dos sem-abrigo de Lisboa. E bem à sua maneira comicieira e lacrimejante, garantiu que o assunto iria ser resolvido. "Aqui estou eu, o Batman dos pobrezinhos, vestido de azul e vermelho, a garantir que assim será ". Durante uns dias - muito poucos, convenhamos - o populacho pagante de impostos acreditou que sim, que iriam criar-se condições para que deixasse de haver magotes de sem-abrigo a dormir na Estação do Oriente ou nas arcarias do Terreiro do Paço. O Batman de Belém dera garantias - Mais e melhor: fixara prazos de erradicação. Mas hoje verifica-se que Lisboa tem mais enxergas ao luar do que tinha antes do falatório do nosso Campeão dos Afectos.

Tudo isto não é relevante. Já não o é. Passou de moda, pronto. Não falemos mais disso! Ponto.

Amadeu Homem