Ser pobre é um estatuto...
Os de hoje não sabem verdadeiramente o que isso é.
O distanciamento social já existia há muito!
Ricos não se misturavam com pobres e estes mantinham sempre uma distância respeitável...
Que o digam aqueles que nasceram na década de 50 e tornaram o mundo no que hoje é.
Uma balbúrdia social onde o rico se fantasia de pobre pagando faustosamente por calças rasgadas entre outros mimos. Já os pobres gastam fortunas em telemóveis de ultima geração. Uma verdadeira pandemia a que esta veio mostrar de novo as diferenças e pôr tudo nos devidos lugares. Infelizmente.
Deixemo-nos de coisas tristes e vamos aos factos:
Quem se lembra ainda da figura do farrapeiro?
Era lá que íamos vender tudo quanto catávamos por entre montes e vales, ruelas e avenidas, por essa cidade fora. Era papel, farrapos, vidro, ( o de cor era mais bem pago) ferro, etc.. Até píncaros de cereja!
Com os tostões bem contados lá íamos correr a comprar rebuçados enrolados em cromos da bola com que enchíamos a caderneta na esperança de ganhar uma a sério... é que aquelas com que brincávamos eram feitas de trapos.
Jogávamos descalços para não estragar o calçado e não reclamávamos por não ter sapatilhas da Nike!
Lembra-me de ter rido quando pela primeira vez vi numa casa de banho a sério o primeiro rolo de papel higiénico!
Papel para limpar o cu?! Só de doidos!
Cagavam em sítio mais limpo que muitos onde pobres comiam!
Nós chamávamos a esse sítio retrete. Um lugar com um m2 feito com tábuas e uma porta com tramela e lá dentro um banco de madeira com um buraco mo meio. Papel, com sorte, o mesmo pedaço de jornal onde se embrulhava o bacalhau na mercearia e se guardava para esse fim. Sacudia-se o sal e amarfalhava-se nas mãos antes de o usarmos depois de lermos as notícias, sempre atrasadas.
Ninguém dizia: - Vou à casa de banho, mas sim: - Vou ensinar o cu a ler!
O vício ficou. Por isso a minha casa de banho parece uma biblioteca...
A pobreza não existe. Só a de espírito. E são os ricos que mais padecem desse mal. Claro que há excepções e nada de confundir as coisas. Aos olhos dos pobres de ontem, os de hoje são todos ricos, incluindo eles. O pior são os outros.
Aqueles que nunca conheceram a pobreza e a consideram pior que o Covid, mantendo sempre uma distância social, não vá alguém pobre contaminar a estirpe...
Atelier Eliseu - Salas de exposições temporárias
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José Eliseu