Viva a República

Carlos-Guedes7.png

 

[…

Os editores são uns tipos tramados. No caso, neste meu caso, a editora.

Juro-vos, sob palavra mesmo de honra, não tenho horas a medir para o bulir. Começo muito cedo, acabo muito tarde, acho que morrerei assim, insatisfeito com tão exiguo recompensar pelo exagerado bulir.

Por tanta escassez de tempo livre por a maior parte do tempo ser destinado ao bulir, aceito uma reunião com a senhora menina editora, neste dia da república. Não entendo se é um sarcasmo

[Para mim, esta onde habito é uma república das bananas]

mas aceito o desafio. E até decido, vou apresentar-lhe um texto em prosa poética sobre a minha noção da vida na república

[Acho engraçada a ideia.]

Ela é bonita. Claro que fala e se apresenta bem. Ela observa-me. Eu observo-a, tímido. E, na primeira deixa, entrego-lhe a papelada para ela interpretar e analisar e decidir.

Entretanto, ela olha de soslaio para mim e para a papelada, e para a papelada e para mim, suspira, e lê os meus olhares, e lê o título da papelada e dispara

- Boa(!), um texto sobre a república – congratula-se. - Puxa, estou saturada de ler propostas de edição de textos sobre psiquiatria, psicologia, eu sei lá!…

- …

 - Parece que a pandemia distorceu tudo… - conclui ela.

Depois ela olha para mim. E eu olho para ela. Uma e outra vez. E assim sucessivamente. Mudos. Até que ela dispara

- O que acha que é uma república?!...

Eu surpreendo-me com a questão. E respondo maroto

- É um espaço de chão que não é monárquico e onde se pode falar livremente sobre psiquiatria e psicologia, eu sei lá!...

E ambos sorrimos e a bom sorrir. Foliões. E decidimos que vamos jantar ao Bairro Alto. De mãos dadas, nesta noite alta de boa-disposição - que é o que faz falta á malta, num dia inteiramente repúblico!…

…]

© Luís Gil Torga

(O Autor não respeita o AO90 – E qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência, pois é de ficção que se trata.)

(Foto tirada da Net)