DAS FILARMÓNICAS AO JAZZ DE RUA

JAZZ RUA1

 

Muitos ainda se lembram quando as Filarmónicas das nossas terras vinham animar as Festas de Coimbra e da Rainha Santa. De facto, era prestigiante, para elas, constarem do respectivo programa e daí os empenhos que se moviam por parte, quer dos seus elementos directivos, quer dos autarcas locais, para que fossem convidadas a participar. Se tal acontecesse, iriam tocar não só na Alta e na Baixa, mas também nas zonas envolventes da cidade, nomeadamente em Celas, Olivais, Bairro Norton de Matos, Conchada, Santa Clara e outras. Disponibilizado pela autarquia, eram acompanhadas por um guia que bem conhecia o terreno e indicava o trajecto onde deviam ser feitas as arruadas. Quando por aqueles lugares viviam pessoas de referência, paravam-lhes à porta, e elas sempre vinham agradecer os respeitos com que as haviam distinguido, outro tanto acontecendo se por lá havia instituições de cariz oficial. Mas outras paragens se faziam nestes percursos, ou não conhecesse o respectivo guia as franquezas dos donos das tabernas e dos cafés, que sempre molhavam as palhetas aos executantes. Porém, o verdadeiro interesse dos que interferiam para que a sua Banda fosse contratada, tinha a ver com a possibilidade de ela ser escolhida para integrar a procissão da noite e vir atrás do andor, que era, por essa razão, lugar de honra e acrescido prestígio. Idêntica distinção era conferida ao espaço atrás do Pálio, aquando da procissão do dia, que era ocupado honorificamente por professores da Universidade, trajados com as cerimoniais vestes académicas, onde não faltavam a borla e o capelo.

Hoje, pelas mais variadas razões, seria impensável fazer a animação de rua com as filarmónicas ao longo de vários dias, tal com dantes acontecia, sendo em regra, as do concelho, quem acompanha as duas procissões, a da noite e a do dia. Também a animação adquiriu novos contornos, numa altura em que os tempos e as vontades são outras e as alternativas correspondem às exigências de quem sente que agora a música é outra! E em boa hora, pois tal iniciativa passou a ser da responsabilidade de agrupamentos de jovens que, aos poucos, se foram constituindo em pequenas bandas, genericamente designadas por Jazz(s) de rua. Delas fazem parte uma nova geração de músicos, muitos deles provindos das filarmónicas, de quem nunca se desligaram na totalidade mas que, a seu tempo, procuraram novos conhecimentos e uma maior formação musical junto dos conservatórios, o que lhes permitiu adoptar e assimilar estoutros ritmos, agora na linha do referênciado jazz. A vivacidade e a alegria contagiante desta gente nova, justifica, por si só, a imparável receptividade e crescente popularidade deste movimento. E tem sido gratificante ver a desenvoltura e capacidade mobilizadora de cada um dos executantes e a maneira como o público, em massa, tem respondido, como aconteceu recentemente na praça 8 de Maio, no contexto do projecto Baixa o Som 24, da iniciativa da Câmara Municipal e da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, onde pudemos ver, nestas noites de Verão, o largo de Sansão transformado num grande auditório, emoldurado pelo arrebatamento de quantos ali usufruíam destes empolgantes momentos musicais!

António Castelo Branco