De um lado Hipócrates, do outro, as musas!

LUIS REBELO1

 

Quando se sente Coimbra no que ela tem de melhor e se associa esse estádio aos múltiplos contributos que advêm das mais variadas formas de voluntariado, muitas delas espelhando a entrega, a filantropia e o carisma por aquela causa que se chama cidadania, somos levados a pensar que esta terra mantém de facto belos encantos!


Enfatizo estas palavras para falar de um gesto que, em meu entender, cabe nestes conceitos, provindo de um homem do nosso tempo, de seu nome Luís Rebelo, homem de uma alma grande e multifacetada: a de médico e a de artista plástico. Separando as águas, vemo-lo ligado, de um lado a Hipócrates, o pai da Medicina e, do outro, às suas Musas, que fizeram dele um consagrado artista a nível internacional, cuja técnica assenta na utilização da espátula sobre a tela, onde as cores vivas exercem um enredo predominante. Declarando não estar ligado a correntes artísticas, poderá, porventura, delas ter sofrido influências, fazendo-nos recuar ao século XIX, período áureo do romantismo, do impressionismo e do expressionismo. Saliento a expansão que a sua obra atingiu, desde logo a partir das exposições que aconteceram nos mais diversos espaços do país e, bem assim, no estrangeiro, concretamente na Hungria, Canadá, Estados Unidos, Vaticano, Bélgica, França e Galiza, onde está representado em Museus e colecções particulares e onde obteve notórias distinções.


Aliás, o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Dr. José Manuel Carvalho e Silva, como colega atento, soube adquirir obra. Notória a predominância da inspiração que Coimbra exerceu sobre o artista, terra onde se formou e se viria a especializar em cardiologia, sem no entanto ter esquecido as suas gentes e as suas origens, tatuado que foi pelos frios da Guarda que o viu nascer e pelos calores tropicais de Angola que o acompanharam na adolescência. A temática é diversa, conforme se pode verificar pela variedade dos trabalhos que fazem parte do seu espólio, nomeadamente os que tratam das mais diversas tradições académicas e de espaços icónicos de Coimbra. Eis-me chegado ao assunto que aqui me traz: falar da doação num total de 45 quadros, avaliados em largos milhares de euros, que este médico artista deixa à cidade e que já se encontra na posse da Câmara desde 29 de Julho passado, após a confirmação do protocolo e a consequente inventariação e recolha daqueles.


Todo este processo, que vem desde há um tempo e só agora se concretizou, deve-se ao empenho e perseverança do Dr. Machado Lopes, o nosso carismático humanista ligado à cultura, e amigo pessoal de Luís Rebelo desde os bancos do liceu. Foi quem me deu a novidade, fazendo questão de, amiúde, me inteirar desta iniciativa à qual se devotou e acompanhou tão de perto, sem ocultar a felicidade que o artista sentiu por ter entregado a Coimbra tanto de si mesmo, sendo seu desejo que a cidade o conhecesse nesta outra vertente. Ora, uma vez a par de todos estes desenvolvimentos, considerei de interesse partilhá-los com os demais, qual evocação de levar a carta a Garcia! Resta-nos aguardar, pois as expectativas são muitas a respeito da elaboração de um forçoso catálogo da exposição e destino destes trabalhos. Esse será o momento em que poderemos dar o abraço certo a Luís Rebelo.


António Castelo Branco