ESPLANADA
Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa, dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão.
Agora lês Saramago e coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam, lentamente,
até um sítio escuro dentro de mim.
O café agora é um Banco, tu professora de Liceu.
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o CHE morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes
e não caminho para andar, como dantes!
Manuel António Pina