MÁSCARA DE ALGUM DEUS
Diante de mim este rosto lunar.
Nariz de prata, pássaros na fronte.
Pássaros na fronte?
E logo há vermelho
e tudo o que a terra esquece.
Umidade com poderes de fogo
florescendo após os negros cílios.
Um rosto na parede.
Detrás do muro, além de toda vontade,
mais longe ainda que olhar e calar:
o que?
Sempre algo que romper, abolir ou temer?
E pelo outro lado? Ao revés?
Voa a mão, nasce a linha,
vibrante destino, negro destino.
Por um instante a melodia é clara,
a tarde parece eterna,
puríssima a sombra do céu.
Volto outra vez. Pergunto.
Talvez diga algo este silêncio,
é uma imensa letra que nos nomeia e contém
em seu ar profundo.
Talvez a morte detrás deste sorriso
seja amor, um gigantesco amor
em cujo centro ardemos.
Talvez o outro lado exista
e seja também o olhar
e tudo isto é o outro
e aquele este
e sejamos uma forma que muda com a luz
até ser apenas luz, apenas sombra.
Bianca Varela
Peru 1926-2009