MORDAÇAS RECUSADAS!

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A direção do Centro de Estudos Sociais (CES) divulgou esta passada terça-feira que está concluído o processo prévio do inquérito de averiguações a denúncias a Boaventura Sousa Santos. O Ponney já apresentou os diversos dados sobre este processo no seu artigo https://www.oponney.pt/coimbra/nova-artigo-123/?fbclid=IwY2xjawG1XmlleHRuA2FlbQIxMAABHSletNmfs1buumaFtHOepBCZpRh1N6w0cuRhFb1Q4HVuJEvXTXOQgUQQoA_aem_OZ4bt-Y1fJTYrqssoZjNcw

Mas há que acrescentar outros elementos, pois Boaventura Sousa Santos anunciou publicamente que renunciou aos cargos no CES. Inclusive ao título de diretor emérito do centro da Universidade de Coimbra (UC), do qual é sócio fundador. Mas o investigador teceu críticas à direção do CES, queixando-se de ser ameaçado e perseguido, e retorquindo com ameaça de um processo.

Está em causa a criação de uma comissão independente para averiguar as denúncias, por parte do CES, sendo divulgado o relatório quase um ano depois, em 13 de Março de 2024, confirmando a existência de padrões de conduta de abuso de poder e assédio, por parte de pessoas em posições hierarquicamente superiores, sem especificar nomes.

Esta comissão independente, criada pelo próprio CES, averiguou o processo que envolviam Boaventura Sousa Santos e o seu assistente Bruno Sena Martins, concluiu que «Da análise de toda a informação reunida, bem como das versões entre as pessoas denunciantes e pessoas denunciadas que foram compatíveis entre si, indiciam padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES».

Ainda de acordo com o relatório, “várias pessoas denunciantes descrevem, quer na qualidade de denunciantes, quer na qualidade de testemunhas, as mesmas situações e/ou situações semelhantes de assédio moral, sexual e abuso de poder”. A consistência do padrão começou a abonar a favor de quem se queixava.

O Ponney lembra que em Junho de 2023, num artigo de opinião enviado ao Expresso, o fundador e investigador do Centro de Estudos Sociais de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos pediu desculpa às pessoas que “possam ter sofrido ou sentido desconforto” por alguns comportamentos inapropriados que possa ter tido, mas que “antigamente” não eram vistos enquanto tal. Admitia eventuais “comportamentos inapropriados”, mas considerava, na opinião de Boaventura de Sousa Santos, que não tinham sido “atos graves”.

Ou seja, há um claro assumir do próprio Boaventura de Sousa Santos de culpa de assédio, mas ainda assim teceu críticas à direção do CES, queixando-se de ser ameaçado e perseguido, e retorquindo com ameaça de um processo. Por um lado assume, mas por outro tenta criar uma imagem de perseguido.

Segundo as declarações feitas esta semana: «Hoje dei o passo mais complicado de toda a minha carreira, mas dou-o com firmeza e com a convicção de que é o mais correto: hoje apresento a minha demissão de associado e diretor emérito do Centro de Estudos Sociais, que fundei. Longe de ser uma derrota, vejo-a como uma libertação, porque as más artes da direção podem ter um efeito irreparável.»

Acrescentando em comunicado dirigido à agência Lusa, afirmando ser objeto, há 18 meses, de um duro processo de acusações infundadas contra o seu bom trabalho profissional, desta forma: «Desde o início deste processo flagrante contra mim, tornou-se cada vez mais claro que foi orquestrado pela direção do CES e que o seu único objetivo é político. Desde a direção do CES, houve uma clara predeterminação de todas as ações destinadas a exonerar qualquer má prática do centro e a fazer recair a responsabilidade sobre o fundador, ou seja, sobre mim».

Um dia antes de ter enviado um e-mail aos membros do CES da Universidade de Coimbra, anunciando que renunciava ao título de diretor emérito, houve um pedido de Boaventura de Sousa Santos para impedir que as mulheres que o denunciaram falem publicamente sobre os casos de assédio no Centro de Estudos Sociais da Universidade Coimbra (CES).

A decisão do Tribunal de Coimbra foi tomada esta segunda-feira (25 de Novembro de 2024) e nega pedido de Boaventura para impedir que mulheres que o denunciaram falem publicamente sobre o caso. Uma tentativa de Boaventura criar uma espécie de mordaça às mulheres que o denunciaram, talvez ainda resquícios de procedimento de um “antigamente” onde o poder escondia estas questões para defender as pessoas que usufruíam um estatuto social privilegiado.

Graças à Democracia, os Tribunais já não estão sobre a alçada do poder político.

AF