Que me importa que chova e arrefeça

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à minha passagem
se trago na cabeça
a ideia do luar
que estendo na paisagem
quando a noite chegar?
(E não há luar mais belo
do que esta música de concebê-lo.)
E a morte? Que me importa a morte,
a morte funda de morrer
– abismo de silêncio apenas
sem uma estrela que vele
ou uma águia a sacudir as penas –
se sinto na pele
a aquecer-me de frio
este vento norte
da podridão
de parecer eterno,
para aqui a viver em vão
num mundo vazio
em que nem sequer há morte?
E o amor? Que me importa o amor, o ódio, a noite o atropelo dos rumos
e os punhais de sangue cravados no chão,
na lua e no poente
das rosas sem jardim
– se trago no coração
esta imaginação
de amar toda a gente
(menos a mim)?
Não! Não me digam
que os meus olhos não ajudam a arder as estrelas,
só de vê-las.
(José Gomes Ferreira, in Província)
Arte: Jeff Rowland