Quem responde por estas atitudes?

MANIF SANTA CRUZ

 

Decorria, na tarde do passado sábado, uma manifestação na Praça 8 de Maio, cujas palavras de ordem proferidas por um dirigente se faziam ouvir em alta voz, através de um megafone. A seu lado, um grupo de manifestantes replicava as ditas palavra que assim chegavam aos demais manifestantes. O lugar onde tal acontecia era o prolongamento do guarda-vento, frente às portas laterais das entradas para a Igreja de Santa Cruz sem que fosse equacionado que aquele espaço já fazia parte da Igreja e que tal actuação perturbava as celebrações que ali decorriam. A situação era de facto caricata, causando reparos e mal- estar a quem tal presenciava. Também eu, agastado com o que me era dado observar, dirigi-me a um carro da polícia, que ali se encontrava com dois agentes, a quem questionei se tinham competência para intervir relativamente àquela utilização indevida, tendo na altura salientado que, caso não o pudessem fazer, lhes pedia fizessem chegar ao comando os meus protestos de indignação por tal ocorrência. Facto curioso: estava eu a dialogar com os tais agentes, quando dois jovens se aproximaram, mostrando-se igualmente desagradados e confusos com o que ali se via, questionando do mesmo modo a autoridade sobre a situação. Sem perda de tempo, logo um dos polícias saiu do carro e dirigiu-se para a entrada da Igreja, de onde o estridente megafone se continuava a fazer ouvir. O que falaram não sei, mas os activistas efectivamente saíram dali e vieram para a Praça. Quanto à intervenção daqueles jovens, ficou-me uma grata lembrança, quando posteriormente, ao verem-me no Café, se dirigiram a mim, contando serem de Lisboa e terem vindo conhecer Coimbra neste fim-de-semana trazidos pelo avô! E eu reconheci-lhes, como era meu dever, o sentido cívico da sua atitude.
A situação decorrente da realização desta acção nos moldes em que tal aconteceu, não está muito longe da controvérsia que tem gerado a ocupação do espaço envolvente do Pórtico da Igreja de Santa Cruz — Panteão Nacional. Com efeito, tem-se ali assistido, ultimamente, à realização de iniciativas para as quais são inclusivamente montados palcos e equipamentos de som e de luzes psicadélicas, que sempre são projectadas sobre a fachada do monumento, algo a meu ver, pouco consentâneo com o enquadramento histórico. Discutível esta perspectiva, há quem defenda que deveria haver uma criteriosa análise ao que ali vai parar, para não se misturarem alhos com bugalhos. E, claro está, para não aparecer amanhã por aí uma Madona a querer entrar no Panteão a cavalo!

António Castelo Branco