TORRE DE ANTO Carta a Manuel

Torre-de-Anto.jpg

Manuel, tens razão. Venho tarde. Desculpa.

Mas não foi Anto, não fui eu quem teve a culpa,

Foi Coimbra. Foi esta paisagem triste, triste,

A cuja influência a minha alma não resiste. (...)

Vá! Dize aos choupos do Mondego que se calem

E pede ao vento que não uive e gema tanto: (...)

Histeriza-me o vento, absorve-me a alma toda,

O Vento afoga o meu espírito num mar

Verde, azul, branco, negro, cujos vagalhões

São todos feitos de luar, recordações.

António Nobre

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Nota:

Viveu 33 anos apenas.

Matriculou-se na Faculdade de Direito de Coimbra onde reprovou duas vezes.

Preferiu o isolamento nesta Torre de Anto, nunca se integrando na boémia estudantil.

Como se quisesse provar ao mundo o seu ultrarromantismo, morreu de tuberculose.

Nascido no Porto, Coimbra fascinou este grande poeta, cuja personalidade estranha sempre me intrigou.

"Só" é uma obra que nos deixa algumas das pontas dessa enovelada personalidade.

Rui Felício