SOBREVIVÊNCIA E PREPARAÇÃO - XIX

 

SOBREV

 

Das poucas vezes que falo a outros sobre a possibilidade e oportunidade de criar uma forma de se estar preparado para qualquer eventualidade, todos acabam por me perguntar “que tipo de maluco sou eu por me estar a salvaguardar para algo que poderá nunca acontecer?”
Estarei a gastar tempo e dinheiro sem necessidade?
Depois dizem-me que eu, e outros, queremos que a sociedade colapse para que possamos fazer o que queremos. Acho que é hora de esclarecer as razões para que se saiba o que somos e não somos (todos quantos pensam nas possibilidades de sobrevivência).

Dentro da área do sobrevivencialismo, existem muitas ramificações diferentes e cada um identifica-se com uma linha distinta. Existem os que gostam mais de preparação, outros de autossuficiência, outros na área armamentista e conforme vai conhecendo e ganhando experiência nessa área, vai percebendo qual a sua vertente.

Vivemos numa época de muito relativismo sobre o que é a verdade, o certo, o aceitável, o que é a liberdade pessoal. Tudo isto deveriam ser fatos consolidados que supostamente deveriam ser incontestáveis, mas muitos destes estão sendo colocados em causa, gerando argumentações desnecessárias ao mesmo tempo que nos afastam das verdadeiras causas.

O que é que isto significa? Que facilmente, essas deturpações de conceitos que são o simples “preto ou branco”, podem confundir também a sua forma de preparação e a sua filosofia associada ao sobrevivencialismo.

No momento, a sociedade anda um pouco estranha. Estamos numa panela de pressão e as pessoas estão a procurar saídas por motivos diferentes.
Infelizmente, uma boa parcela dos preparadores sonha secretamente com um colapso da sociedade para que ele possa ser o mandão do local ou simplesmente poder exibir ou mostrar a si mesmo que é capaz de subsistir em tempos de dificuldade. Mas isso é apenas soberba, prepotência, egocentrismo e estranhamente, o sobrevivencialismo está infestado de pessoas frustradas que querem assumir o poder quando as coisas descambam. O problema dessa gente é que não têm base na realidade ou consequências do futuro.

Quando se olha para um cenário histórico de crise, onde pessoas tiveram que passar por situações terríveis para se manterem vivas, o que se encontra é uma verdade muito diferente. Geralmente, aquele que se mostra como o “chefão”, o que nota que não há mais lei ou regra, começa por fazer o que quer, mas acaba por morrer nas mãos de quem pensava que lhe era leal ou submisso. A doce fantasia de que o indivíduo será dono do próprio acaba sempre mal.

Apenas porque acha que está preparado, deve lembrar-se que enquanto se acha o maior por ter vestimenta camuflada, uma faca ou até uma arma, há gangues de criminosos que no mundo atual já atuam praticamente do modo como querem e quando acontecer uma situação de colapso, são estes que se vão tornar os novos reis do pedaço pela experiência, organização e número.

Por outro lado, existem aqueles que levam a coisa a sério. Mas afinal, porque é que a gente se prepara? Preparamo-nos para não nos corromper durante um colapso.
Um dia, alguém me perguntou se a minha família ficar sem comida e eu me vir forçado a roubar outros, faria isso? A minha resposta imediata foi: “Se se for para manter a minha família bem, sim!”.

Mas eu faria isso porquê? Porque prefiro me condenar ao inferno, mas manter a minha família viva. E isso acontece com todos. É o chamado “instinto de sobrevivência”.

Como esta situação não é proveitosa para ninguém e porque não tenho interesse algum em roubar, enganar, ordenar, comandar, controlar ou abusar de alguém, então preparo-me. Não é à toa que nós temos toda uma filosofia associada ao sobrevivencialismo.

José Ligeiro