Impedir entrada para bancada dos sócios AAC com camisola do adversário

Correu nas redes sociais a queixa de um pai que viu vedada a entrada do filho pequeno no Estádio Cidade de Coimbra, o jogo era o da Académica com o SLB B , por este estar com uma camisola do SLB vestida no tronco mas na mão levar para entrar o cartão de sócio da AAC.

Não se faz a uma criança, dirão. Em abstracto teria de concordar que o mal, camisola do adversário, é menor. Mas depois de pensar no assunto a pergunta não tem resposta fácil. O miúdo de seis anos só chegou à porta assim vestido porque o pai o levou, sabendo que ia com as cores do adversário para um local “reservado” a sócios mas adeptos do mesmo. Os meus filhos aos seis anos não escolhiam a roupa que vestiam. E não decidiam a porta por onde entravam num estádio. E este também não escolheu. Foi o pai que assim quis, deliberadamente. E eu como pai nunca os poria a entrar como sócio de uma associação para ir acudir pelo adversário. Já levei muitos filhos de amigos ao futebol, já fui muitas vezes a estádios onde, por ser convidado, fiquei em zonas do adversário. Sempre respeitei isso. Não festejando golos contra a equipa que me convidara, apesar de ser a AAC que marcara, sem levar cachecol ou camisola da Académica. Faço o mesmo em casas de amigos. Se não sei pergunto ao chegar qual o clube do dono ou dona da casa para não melindrar ninguém em sua própria casa. Considero isso tudo uma forma educada de estar em sociedade. E eduquei os meus assim. Lamento que nem todos assim façam. E este pai não o fez. Preferiu mostrar a um menino de 6 anos que é correto ser associado da Académica mas quando a sua equipa vier jogar cá esse sócio pode exultar com os golos do adversário, pode fazê-lo com naturalidade e mais, pode fazê-lo na bancada de sócios do clube que sofre o golo. É dose.

Como disse acima isto envolve muito mais que uma criança com a camisola de um adversário a usar o cartão de sócio para festejar a “desgraça” do clube de que é sócio. As gentes de Coimbra foram-se afastando da sua Académica e da sua cidade. Primeiro tendo outro amor a centenas de kms de distância e depois progressivamente esse amor pelo clube que ganha, embora distante, foi crescendo e ocupando o espaço da AAC-OAF. Hoje temos muitos habitantes de Coimbra que nutrem alguma simpatia pela instituição desde que não ganhe ao seu amado clube longínquo. Assisti ao longo dos tempos a adeptos no Estádio que saíam contentes ganhasse um ou outro, depois mais contentes se ganhasse o que não poderia “perder pontos”, até chegarmos ao último ano na 1ª Liga quando se insultavam os jogadores de preto por estarem a pontuar com o seu amor longínquo. Isto revela, quanto a mim, falta de auto-estima e algum provincianismo. Há que ir aos jogos, apoiar, gritar, envolver-se seriamente. Só com adeptos na verdadeira acepção da palavra a coisa melhorará. A instituição tem tudo para ser acarinhada, assim o queiramos. Mas não assim, não com um mau exemplo legitimando um comportamento enviesado em que se educa alguém mostrando que se pode fazer o que queremos, sem olhar aos outros. Este sócio poderia ir com o filho para a bancada visitante, mas preferiu picar, preferiu afrontar, preferiu ostentar um direito, o de entrar, a exercer um dever, o de ser razoável. E para isso usou uma criança, inocente, ao serviço da sua provocação.

E como educar é dar o exemplo, como educar é dizer mais não que sim, diria que não caro senhor o senhor não esteve bem ao esticar a corda para alimentar o seu ego como adepto de um clube longínquo. Não esteve bem ao fazer queixa na PSP. Mas como o seu filho merece uma segunda, terceira ou quarta chance traga-o a um próximo jogo com total coerência, com cartão de sócio, indo para a bancada dos adeptos com a camisola da Académica. Será bem-vindo e vai divertir-se mais do que a torcer pelo clube do pai, por ser o do pai, porque assim quer o pai!

Rui Rodrigues

Coimbra

Nota: sem preocupação em ser fiel aos pormenores, comentário

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