LEMBRAMOS QUE AMANHÃ, É DIA NACIONAL DA BANDA DESENHADA
O Ponney não pode esquecer e congratula-se por esta assinalável data de 18 de Outubro (amanhã) para se comemorar o Dia Nacional da banda Desenhada em Portugal que é um caso insólito e a efeméride é acolhida com entusiasmo por autores e editores.
A celebração deste dia foi proposta pelo partido Livre e aprovada por unanimidade pelos deputados da Assembleia da República, no final do passado mês de Setembro. A escolha desta data, de 18 de Outubro, foi explicada por ser nesta data, em 2023, que a Academia Nacional das Belas Artes reconheceu a banda desenhada como uma “forma superior de expressão cultural e artística”.
Contactado pela agência Lusa, Paulo Monteiro, autor, editor, diretor do festival de BD de Beja, disse sobre a celebração deste dia «Não acho que o dia seja o mais significativo na História da BD portuguesa, mas acho que é importante a entrada como uma das disciplinas da Academia de Belas Artes. É uma data em que cabem todas as outras datas». Se pudesse ter escolhido, Paulo Monteiro diria que o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa deveria ser a 03 de Agosto, dia em que, em 1850, foi publicado, na Revista Popular, “Aventuras Sentimentais e Dramáticas do sr. Suplício Baptista”, foi a primeira história de banda desenhada publicada em Portugal e uma das mais antigas do mundo. Foi publicada no número 18 da Revista Popular a 3 de Agosto de 1850 sendo da autoria de Flora, um provável pseudónimo de António Nogueira da Silva (1830-1868)
Em declarações à Lusa, o investigador académico Pedro Moura lamentou que não tenha sido feito “nenhum tipo de discussão transversal” sobre a escolha da data, a não ser aquela referência à decisão da Academia Nacional de Belas Artes.
«A data não é uma efeméride em particular, sobre uma publicação ou o nascimento de alguém – esse alguém deveria ser o [Rafael] Bordalo Pinheiro. […] Não nego que haja valor, [mas] não houve discussão com a comunidade, entre investigadores, autores, editores. Foi uma decisão de um grupo pequeno, ainda bem, mas não reflete a História da Banda Desenhada em Portugal», reforçou. Pedro Moura, ele próprio com obra publicada enquanto investigador e argumentista, considera que a data poderá ser capitalizada por editoras ou entidades na promoção e divulgação de BD, mas continua a não haver crítica e pensamento sobre este género literário.
Ainda assim fica claro que a importância desta data incentiva este tipo de leitura que está a ser cada vez menos considerado como leitura infantil, Paulo Monteiro concorda que servirá para o mercado promover e divulgar banda desenhada.
«Não sei se vai trazer mais leitores, mas é mais um motivo para se falar, para se conversar e isso não é necessariamente mau. E acaba por funcionar como um pretexto para os livreiros acarinharem a BD pelo menos neste dia, de uma forma diferente, nas livrarias generalistas; por isso alguma coisa fará mexer», considerou Paulo Monteiro.
Jorge Deodato, um dos fundadores da editora independente Escorpião Azul, cujo catálogo é maioritariamente composto por autores portugueses, contou à Lusa que a criação daquela efeméride “tem uma relevância imensa”. Reconheceu Deodato: «É um reconhecimento importante de que a banda desenhada é uma forma de arte que esteve durante anos e anos esquecida e que, de há uns anos a esta parte, estava a lutar para ter um impacto maior».
O editor acredita que esta celebração será importante para o meio artístico: «A banda desenhada não é fazer um bonequinho em cinco minutos. É uma arte exigente e a maioria dos autores faz tudo sozinho». O Ponney reconhece bem a necessidade de arte e técnica para a produção de BD.
Sílvia Reig, responsável pela editora Levoir, aplaude a decisão de se criar este dia nacional, porque ainda há “um certo menosprezo da banda desenhada” em relação a outros géneros literários.
“É um dia importante. Vai mudar muito? Não, mas é com pequenos movimentos que conseguimos mudar as opiniões”, disse a editora à Lusa.
Uma das coleções recentes publicadas pela Levoir, em colaboração com a RTP, é dedicada a adaptações de grandes clássicos da literatura portuguesa, como “Os Maias”, de Eça de Queirós, “A mensagem”, de Fernando Pessoa, e “Os Lusíadas”, de Camões, cujo primeiro volume sai na próxima semana.
«Muitos professores já vieram dizer-me que os livros eram bons e que iam recomendar aos alunos e que os dossiers pedagógicos estavam bem feitos. […] O importante é que os miúdos e os graúdos peguem num livro e leiam. É uma porta de entrada para outro mundo», sublinhou Sílvia Reig.
A realidade é que a BD em Portugal tem demonstrado grande vitalidade e capacidade de renovação! Pois na última década, os números de publicação de BD em Portugal demonstram um setor em crescimento e com maior visibilidade e não podem ser ignorados.
Jorge Deodato também tem a perceção de que a produção está a aumentar, a oferta é maior e há “uma maior densidade de autores”, enquanto Paulo Monteiro descreve-o como “um momento particularmente positivo”.
“Estamos muito longe dos anos 1980 e 1990, em que o mercado franco-belga dominava. Neste momento são mais de 200 autores a trabalhar. Há muita gente a fazer BD e a publicar, nomeadamente nas publicações alternativas e fanzines. Há uma série de festivais, antes só havia o da AmadoraBD. Há a Bedeteca de Beja e da Amadora, a renovada Bedeteca do Porto, a fanzineteca de Aveiro”, enumerou Paulo Monteiro.
No início de Setembro, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) divulgou um estudo sobre hábitos de leitura e de compra de livros, encomendado à empresa GfK, e que concluía que, nos últimos 12 meses, 22% dos inquiridos tinham comprado banda desenhada.
Nos hábitos de leitura, 11% dos inquiridos disseram ter lido banda desenhada no último ano, numa tabela que era liderada pelo romance. Segundo a APEL, a leitura e a compra de banda desenhada decrescem à medida que a idade do leitor aumenta.
Sobre a existência de banda desenhada nas coleções da Rede de Bibliotecas Públicas e sobre o volume de empréstimos deste género literário, fonte da Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas disse à Lusa que os inquéritos feitos regularmente a estes equipamentos apenas revelam uma “caracterização genérica” de atividade e não possuem um grau de detalhe sobre género.
O texto original da proposta para o Dia Nacional da Banda Desenhada diz:
«Com a presente iniciativa, o LIVRE propõe que se consagre o dia 18 de Outubro como o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa.
A data escolhida corresponde ao dia em que a banda desenhada foi oficialmente consagrada pela Sociedade Nacional das Belas-Artes como forma superior de expressão cultural e artística, um passo decisivo que contribui para o reconhecimento e credibilização da banda desenhada portuguesa e de todos os seus intervenientes, desde editores a autores e profissionais de edição.
Longe vão os tempos em que a banda desenhada era vista como uma arte limitada a um público infanto-juvenil. A BD portuguesa tem demonstrado grande vitalidade e capacidade de renovação, desde os seus primórdios, no séc. XIX, com Raphael Bordalo Pinheiro, figura determinante para a criação e desenvolvimento da banda desenhada em Portugal.
Na última década, os números de publicação de banda desenhada em Portugal mostram um sector novamente em crescimento e com maior visibilidade na sequência do crescente número de chancelas dedicadas exclusivamente à edição de BD, coleções que saem regularmente nas bancas, o fenómeno da banda desenhada de origem nipónica (mangá) ou as mais recentes adaptações de clássicos literários, de enorme relevância em termos pedagógicos e de cultura geral. Este panorama tem possibilitado o surgimento e a afirmação de novos e velhos autores nacionais, contribuindo para a consolidação da nona arte em Portugal.
Além disso, vários festivais portugueses dedicados a este tipo de literatura têm mostrado, desde há décadas, enorme capacidade em captar públicos de todas as faixas etárias, e têm dado passos no sentido de se afirmarem como uma referência a nível municipal, regional ou nacional, face ao aumento da participação de profissionais da área e à enorme adesão do público à programação cultural que tem vindo a ser promovida pelas mais diversas organizações.
É inegável que a banda desenhada portuguesa tem dado provas recentes de grande crescimento, maturidade e profissionalização. Com o seu reconhecimento pela Sociedade Nacional de Belas-Artes, possibilita-se também a valorização das potencialidades pedagógicas da BD para o ensino do Português, retirando-a das margens e dando-a a conhecer a todas as pessoas.
Nestes termos, o abaixo assinado Deputado do LIVRE, ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, propõe que a Assembleia da República adote a seguinte resolução:
A Assembleia da República resolve, nos termos do número 5, do artigo 166.º da Constituição da República Portuguesa, consagrar o dia 18 de outubro como o Dia Nacional da Banda Desenhada Portuguesa.
Assembleia da República, 06 de setembro de 2024»
JAG
17-10-2025