SOCIEDADE

 
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O matadouro é a fórmula crua da sociedade em que vivemos. Uns nascem para reses, outros para verdugos. Uns jantam, outros são jantados. Há criaturas lôbregas vestidas de trapos, minando monturos, e criaturas esplêndidas, cobertas de oiro e de veludo, radiando ao sol. No cofre do banqueiro dormem pobrezas metalizadas. Há homens que ceiam numa noite um bairro fúnebre de mendigos. Enfeitam gargantas de cortesãs rosários de esmeraldas e diamantes, bem mais sinistros e lutuosos que  rosários de crianças ao peito de selvagens.

Vivem quadrúpedes em estrebarias de mármore, e agonizam párias em alfurjas infectas, roídos de vermes. A latrina de Vanderbilt custou aldeolas de miseráveis. E, visto os palácios devorarem pocilgas, todo o boulevard grandioso reclama um quartel, um cárcere e uma forca. O deus milhão  não digere sem a guilhotina de sentinela. Os homens repartem o globo, como os abutres o carneiro. Maior abutre maior quinhão. Homens que têm império e homens que não têm lar. - GUERRA JUNQUEIRO.

É leviano o mundo. Não indaga. Julga pelos rumores e condena sem averiguar. Aprecia virtudes falsas, e desconhece às vezes o mais nobre proceder
Quanto mais adiantada está uma sociedade no caminho dos progressos materiais, tanto mais fácil é cair na abjecção, na demência e na tirania, quando perde o senso moral e as virtudes públicas a abandonam; porque, quando aos deuses se vão, não vão sós: a dignidade humana acompanha-os. - NUÑEZ DE ARCE.

ANTARCO
Art - Hieronymus Bosch